"Acontecimento cultural" de relevo, a abertura oficial da Galeria JN fez precipitar para as instalações do matutino portuense "numerosos artistas e intelectuais", como noticiou o jornal no dia seguinte à inauguração.
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Fernando Lanhas, Jaime Isidoro, Dario Alves, Egito Gonçalves ou Rebordão Navarro foram apenas alguns das muitas dezenas de convidados que acorreram ao ato formal que tornou possível um anseio de muitos anos. Representantes de outros poderes e forças também corresponderam à chamada, testemunhando a rara ocasião em que o JN "não se limitou a fazer notícias do mundo ou da rua: foi notícia".
Do governador civil do Porto ao lendário bispo D. António Ferreira Gomes, os ditos notáveis marcaram presença em força. Recebidos pelos diretores e administradores do periódico da altura, os convidados visitaram longamente as instalações, demorando-se ainda mais na contemplação dos trabalhos expostos.
O acontecimento não era de somenos: não só o Porto - "tão carenciado de tudo, sobretudo no setor cultural" - passava a dispor de um novo espaço de divulgação artística, como a exposição inaugural teve a assinatura de Maria Helena Vieira da Silva, "um dos maiores nomes da pintura mundial". Ainda por cima, o convite permitia a reparação de uma injustiça "a quem o governo fascista não concedeu a sua nacionalidade, que era a de todos nós".
A exposição de Vieira da Silva só se concretizou devido ao empenho da Fundação Calouste Gulbenkian, sob a forma da cedência temporária de duas tapeçarias, dois óleos e uma têmpera, 25 gravuras, 19 litografias, uma água tinta, duas águas fortes e uma serigrafia.
Azeredo Perdigão, presidente da instituição, marcou presença na cerimónia e juntou-se ao coro de elogios do novo projeto do "Jornal de Notícias". "Foi uma feliz ideia, embora se tenham de selecionar os trabalhos, de acordo com as condições do espaço", frisou.
Os propósitos da Galeria JN não pretendiam limitar-se ao mero acolhimento de exposições. Afinal, pretendia-se que o espaço fosse um "centro de irradiação estética e um ponto de encontro de tendências, de escolas, de personalidades do mundo plástico".
Os bons auspícios deixados pela exposição inaugural tiveram continuidade nos anos seguintes, com a organização de um número amplo de exposições em que participaram alguns dos mais relevantes artistas plásticos portugueses do nosso tempo, como Júlio Resende, José Rodrigues ou Graça Morais.