Bizarra Locomotiva foram os mais impiedosos. Apocalyptica é metal de conservatório. Within Temptation são espirituais e sinfónicos. Pendulum querem é que a malta dance. Festival termina este sábado com Peaches, James e Ornatos Violeta.
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Várias tendências do metal desfilaram na penúltima noite de Vilar de Mouros: da abordagem visceral dos Bizarra Locomotiva à toada espiritual dos Within Temptation, passando pela sofisticação dos Apocalyptica. Tudo culminou no concerto dos Pendulum, que soltaram um drum’n’bass selvagem que arrebatou toda a gente.
Com o sol a estatelar-se, subiram ao palco os precursores do metal industrial português: Bizarra Locomotiva. Ativos desde 1993, foram os mais desvairados do terceiro dia do festival. O vocalista, Rui Sidónio, acusou o calor e apresentou-se de calções mínimos que constantemente ameaçava tirar. Pinchou por toda a parte e sobretudo no fosso, atraindo as mãos de homens e mulheres. Atrás dele, o guitarrista e o teclista estavam tão embrulhados em pinturas e cabelo que seriam um pesadelo para os ‘software’ de reconhecimento facial. Despejaram uma carga impressionante de metal rugoso, amplificada pela voz gutural de Sidónio, rapaz de 50 anos que lembra o Henry Rollins do tempo dos Black Flag, na aparência maciça e na atitude de confronto. Deixaram o palco em chamas com a sua atuação, e tudo pareceu pueril depois deles.
A começar pelos Apocalyptica, músicos da Academia Sibelius, em Helsínquia, especializados em violoncelo. Inserem-se numa linhagem que remonta aos Electric Light Orchestra, pioneiros na utilização desse instrumento no contexto do rock. Foram inicialmente banda devocional dos Metallica, criando ‘covers’ do grupo de trash metal com travo de violoncelo. “Nothing else matters” foi uma das que ecoou em Vilar de Mouros. Mas também houve versões de Rage Against the Machine e AC/DC. Já o seu repertório é épico e altissonante, os três violoncelistas alinhados na frente do palco a arrancarem um som tão potente como o das guitarras. Noutros momentos, aproximavam-se da folk nórdica, com melodias nostálgicas e planantes. Fartaram-se de falar finlandês, só Odin saberá o que disseram.
Em seguida, deu-se o regresso dos Within Temptation, que atuaram neste palco na edição de 2005. São estrelas do metal sinfónico a cintilar dos Países Baixos. Vivem do contraste entre a voz lírica de Sharon den Adel e a inclemência dos instrumentos. Dedicaram um tema à Ucrânia perante a reação ambígua do público: houve muitas palmas, mas também assobios. Falaram de liberdade religiosa, da família, e avançaram temas do novo álbum com edição marcada para outubro, “Bleed out”. Uma enorme cabeça, semelhante à da personagem Mística, da Marvel, foi alojada no centro do palco. E à sua volta subiu música intensa e elaborada, se bem que, nalguns momentos, parecesse material pirotécnico para a Eurovisão.
E tudo confluiu para o espetáculo dos Pendulum, que se estrearam em Portugal em formato de banda. Nas raízes dos fundadores, Rob Swire, Gareth McGrillen e Paul Harding, todos cidadãos de Perth, na Austrália, estão o rock e o heavy metal. Mas os seus interesses alastraram para a área das eletrónicas, sobretudo do drum'n'bass. O que torna difícil defini-los hoje: é banda de rock pesado envolta em ambiente de rave, ou é pista de dança a latejar com memórias de metal? Ao público isso interessou muito pouco: aceitou o convite para o delírio e entregou-se sem reservas.
O festival termina este sábado com atuações de Peaches (19.30 horas), Guano Apes (21 horas), James (22.45 horas) e Ornatos Violeta (00.45 horas).