Igreja não consegue acabar com a fixação das notas nos andores.
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Flores, cetins, rendas, mas também notas. De euros, sobretudo, mas também de dólares…Apesar de não aplaudir e de condenar até, a Igreja está longe de conseguir acabar com uma tradição que, à semelhança de outras regiões do país, também faz escola no Barroso. A colocação de dinheiro, em notas, nos andores que saem em procissão nas festas religiosas que acontecem, sobretudo, durante o Verão.
Em Vilar de Perdizes, no concelho de Montalegre, a prática mantém-se, quer na festa da padroeira, a Senhora da Saúde, que se celebra em Junho, quer na Festa dos Emigrantes, que vai ter lugar no dia 15 de Agosto, e que foi uma romaria criada precisamente para que os que estavam lá foram pudessem venerar a santa padroeira.
"De facto, ainda não consegui acabar com o vício", admite, o pároco local, o mediático padre Fontes, lembrando que o costume é fruto da emigração. "Isso começou com os emigrantes que começaram a exibir as notas estrangeiras", recorda, revelando que a Igreja "não gosta muito do hábito", embora o vá aceitando. "É feio e bacoco", defende Fontes, que preferia maior discrição no acto de dar a esmola.
No entanto, mesmo contra a Igreja, a população continua a pendurar as notas nos andores. Muito do dinheiro colocado é promessa. "Aqui ainda há muito esse hábito, sobretudo, por parte das pessoas mais idosas. Algumas, se os comissários das festas não colocam o dinheiro no andor até se zangam", explicou, ao JN, uma jovem de Vilar de Perdizes.
António Rodrigues, da mesma aldeia, que foi comissário da festa, corrobora e garante que são as pessoas que pedem para o dinheiro ser colocado no andor. Da padroeira, quase sempre. "O da Nossa Senhora de Fátima também leva algum, mas, normalmente, as pessoas pedem para pôr no da Senhora da Saúde", recorda. "Isso é uma devoção como outra qualquer", acrescenta a esposa.
"Ora bem, para a comissão, quantas mais notas melhor porque sem dinheiro não se consegue fazer uma boa festa", diz, lembrando que "notas puxam notas". Na altura em que ele era comissário, há mais de uma década, o andor da Senhora da Saúde, chegava a juntar mais de mil euros.