Casa da Música celebra aniversário com nova presidente do Conselho de Administração e novo diretor artístico.
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Há duas décadas, Jorge Sampaio, à época presidente da República, ladeado pelo primeiro-ministro José Sócrates, que acabara de conseguir uma maioria absoluta, cortava a fita da Casa da Música (CdM). O desejado óvni plantado na Boavista, projetado pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas, tornava-se imediatamente um marco arquitetónico do Porto, e um símbolo de uma nova era para a música em Portugal. A pré-inauguração decorreu a 14 de abril de 2005, com um concerto esgotado de Lou Reed. Hoje, no 20.º aniversário, há “concertos flash” gratuitos espalhados pela cidade e "Stabat mater” numa noite de gala.
A história remonta ao Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura. Desde o anúncio em 1998, feito por Manuel Maria Carrilho, então ministro da Cultura, entusiástico promotor da ideia de Pedro Burmester de fazer no Porto “uma casa de todas as músicas”, o percurso da CdM foi marcado por decisões controversas, sucessivas mudanças de liderança e derrapagens orçamentais – custou 111 milhões de euros, seis vezes mais do que o previsto.
Passados 20 anos o que ganhámos? A instituição tem, desde a fundação, cinco agrupamentos residentes: Orquestra Sinfónica do Porto; Remix Ensemble, com 18 discos editados e 115 obras em estreia absoluta; a Orquestra Barroca, o Coro CdM e o Coro infantil.
Isabel Furtado, a primeira mulher em 20 anos a presidir à administração da CdM, disse ao JN querer inaugurar uma era de nova ambição: “Esta magnífica Casa merece mais. É preciso angariar mais fundos, atrair novos mecenas, trazer novos fundadores” e promete “rigor e inovação”. O investimento público anual na CdM é de 10 milhões de euros.
Acesso cultural a todos
A programação é a sua pedra basilar, com mais de seis mil concertos em 20 anos e 3,8 milhões de espectadores. Agora na mão do novo diretor artístico François Bou, o francês renovador quer “novos cruzamentos” e, entre outras coisas, fazer regressar o Clubbing, mini festival de música eletrónica e “indie” que existiu oito anos e depois desapareceu. “O Clubbing talvez deva misturar músicos pop ou hip-hop com os agrupamentos residentes”, disse ao JN. Entre as grandes marcas, os concertos ao ar livre, na Avenida dos Aliados, tornaram-se emblemáticos, como o que em 2017 que juntou o Remix Ensemble aos Mão Morta.
O Festival “Verão na Casa” também símbolo da democratização cultural, ao oferecer 120 concertos com nomes como Gregory Porter e Annette Peacock. Eventos como os Concertos de São João celebram a identidade portuense, com espetáculos de Rui Veloso ou Sérgio Godinho, integrando-se no tecido cultural da cidade. No plano globall, a CdM construiu reputação sólida, parcerias com músicos como Alexander Romanovsky, Grigori Sokolov ou Antoni Wit, bem como encomendas de mais de 300 obras a compositores contemporâneos.
A vertente educativa, constante desde 2005, tornou a CdM um motor de inclusão social, e exemplo disso são programas como o “Romani 2.0” com a comunidade cigana, em 2015; ou iniciativas como a realizada na Prisão de Custóias, desde 2009. Assim como os prémios que instituiu: Internacional Suggia, Novos Talentos, Conservatório de Música do Porto, Future Rocks e Future Jazz são um forte incentivo às novas gerações.
Nem sempre o percurso foi isento de polémicas. Entre 2020 e 2021, a instituição enfrentou críticas e processos judiciais relativos à situação laboral de prestadores de serviços. O Ministério Público avançou com ações, obrigando a CdM a rever práticas e regularizar vínculos. Em novembro de 2023, o Tribunal de Contas identificou ilegalidades em contratações públicas, mas reconheceu melhorias significativas nos procedimentos internos, reforçando o empenho da instituição em corrigir falhas passadas.