A cantora leva "Quando tiveres tempo" ao Teatro Maria Matos, em Lisboa, esta sexta-feira.
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Em junho de 2020, em pleno início de pandemia, Viviane editava "Quando tiveres tempo", o primeiro single do álbum homónimo. Apesar de escrito antes do mundo mudar, o tema falava sobre uma realidade em que o tempo não chega para estarmos juntos - ali, não por isolamentos ou medo, como viria a acontecer, mas por rotinas aceleradas, porém desembocando na mesma saudade do outro, na mesma apreciação de como o tempo é precioso e tantas vezes descurado.
Dois anos de pandemia foi também o tempo que a cantora portuguesa, a solo praticamente desde os Entre Aspas há já mais de 15 anos, esperou para completar o circulo do seu novo trabalho: a gestão dos singles, do disco, os concertos, tudo foi sendo adiado. E tudo retoma agora: depois de passar pela redação do Jornal de Notícias, Viviane leva esta sexta-feira "Quando tiveres tempo", disco marcado pelas influências de um "fado mediterrâneo", ao Teatro Maria Matos, em Lisboa. Os temas novos, cheios de "energia positiva", e as canções icónicas da sua carreira estarão todos presentes, como explica a artista ao JN.
"Quando Tiveres Tempo" foi um dos muitos trabalhos em todo o mundo adiados pela pandemia. Como foi gerir isso, no meio de toda uma ansiedade natural em lançar um disco?
Sim, de facto houve aqui esta interrupção da pandemia e eu já tinha o trabalho quase acabado. Mas durante esse tempo aproveitei para retocar as canções, para voltar a ouvi-las com atenção, corrigir algumas coisas. E ao mesmo tempo fui lançando o primeiro single, " Quando Tiveres Tempo", que foi posto em vídeo aliás dias antes do primeiro confinamento. E depois saiu outro tema, "Oh! meu Pequeno País", que foi um prémio que ganhei da Sociedade Portuguesa de Autores, um desafio aos autores para comporem uma canção sobre o seu país. Mas sim, foi tudo uma gestão, lenta, do processo habitual.
Falou-se mais do que nunca, na pandemia, das dificuldades dos músicos, de toda a máquina, como se as pessoas percebessem de facto que os artistas precisam dos concertos, de vendas para viver. Parece-lhe que essa sensação se manteve ou já se perdeu?
Infelizmente a coisa mantém-se, mas porque a cultura é a primeira a ser afetada pelas crises. A pandemia foi realmente uma crise que nos afetou a todos no setor da cultura, e agora que as coisas pareciam realmente iam animar mais um pouco, esta nova crise, com as pessoas a verem os preços a dispararem e a a fazerem contas ao dinheiro que têm para pôr a comida em casa e pagar as contas, começa-se a sentir novamente que a cultura é capaz de ficar bastante afetada novamente. Eu espero que não; mas de facto a cultura é muito vulnerável, e nós aprendemos isso também durante a pandemia.
Como é ter uma carreira já de vários anos e ainda editar, com tantas mudanças, entretanto no meio, na música, até na forma de divulgar?
É verdade. Eu comecei nos Entre Aspas no início dos anos 90, e muitas vezes penso nisto: que tive a oportunidade de ir acompanhando as mudanças todas que foram surgindo, desde o aparecimento da internet, a tudo o que foi evoluindo. E eu com praticamente 30 anos de carreira, com toda essa aprendizagem que fui tendo, logo quando os Entre Aspas terminaram criei a minha própria empresa, o meu próprio estúdio de gravação, com edição de autor, a minha editora; e isso permitiu-me não estar tão dependente, por exemplo, de uma editora, para poder continuar a compor e a partilhar o meu trabalho com o meu público, que é o que eu mais desejo fazer.
Mas é adepta das novas plataformas e até das redes sociais como forma de divulgar trabalho?
Sim, sem dúvida nenhuma. Quando eu comecei, só podíamos estar ligados a uma editora, e eles é que tinham essas ferramentas todas. O aparecimento da internet foi uma das coisas que veio facilitar um bocadinho a vida aos artistas, ao poderem promover os seus trabalhos através das plataformas digitais.
Falámos dos seus quase 30 anos de carreira; das experiências e fases que já teve, há algum momento mais memorável para si?
Todas elas foram muito ricas. Os Entre Aspas foram uma experiência fantástica, de trabalhar com uma editora, ter uma carreira com muitos concertos. Depois ainda passei por outro projeto, o Camaleão Azul, que foi o primeiro lançado pela minha própria editora: um projeto com o Tó Viegas com a poesia do Fernando Cabrita, mais experimental. De seguida, decidi iniciar a minha carreira em 2005 e entretanto fiz parte de outros projetos, como a Rua da Saudade, por exemplo. Portanto, eu fiz coisas que são bastante diferentes umas das outras, mas eu gosto disso, gosto como cantora, como intérprete, como compositora, de sair da minha zona de conforto e experimentar diferentes registos. E esta minha carreira a solo realmente vem comprovar um bocado isso, porque é uma... não direi uma fratura porque é demasiado forte, mas um caminho completamente diferente daquilo que eu fazia nos Entre Aspas. Eu tinha coisas para dizer que não cabiam naquele formato mas finalmente estou a seguir este caminho do meu fado mediterrânico, como eu lhe chamo. E este ano com o novo disco também vi ser assinado um contrato com uma editora alemã, e é tudo: tudo sabe sempre a diferente, com coisas novas a acontecer e para mim isso é muito positivo.
Sobre este disco diz que são temas alegres, cheios de energia positiva, dentro do tal fado mediterrânico. Como foi a composição? Onde é que se inspira?
A composição vem do meu estado de alma, daquilo que eu observo. E também para este disco, quis que entrassem outras pessoas, com outros tipos de escrita, para enriquecer o trabalho. Foi o caso de pessoas que compuseram para este disco: A Garota Não, o Luís Caracol, o Tiago Torres da Silva, ainda o Jorge Cruz, mais um poema da Adília Lopes. Portanto, são cinco temas de outros autores e outros cinco com letras minhas. E todos eles refletem um bocadinho aquilo que eu costumo ser: temas alegres, na sua maior parte, e com uma mensagem de esperança também.
Neste aguardado concerto em Lisboa, o que podemos esperar em termos de canções, de estrutura?
A maior parte das canções vai ser da apresentação deste disco, mas é claro que não posso deixar de parte alguns outros temas dos álbuns anteriores, desde 2005, que marcaram a minha carreira. E até vou cantar também um tema que vem dos Entre Aspas, que é o que me tem acompanhado nestes anos todos. Em palco vou ter os músicos que me acompanham regularmente, à exceção da bateria, porque tratando-se de um teatro eu quis que fosse uma sonoridade mais acústica e onde a minha voz tivesse mais espaço para chegar mais de perto e haver mais intimidade com o público.