Pioneira do rap galego atua este sábado no quartel da Proteção Civil de Braga no âmbito do ciclo Cindy's Sisters.
Corpo do artigo
"Quanto mais nos descobrimos e aprofundamos a nossa singularidade, mais universais nos tornamos." A reflexão é de Wöyza, pioneira do rap galego que apresenta este sábado, às 21.30 horas, o seu novo álbum, "Valiosa", no quartel da Proteção Civil de Braga. Será o último ato do ciclo Cindy"s Sisters, que promoveu vários concertos de hip hop no feminino no contexto da Braga 25 - Capital Portuguesa da Cultura.
Nome de palco de Sofia Trigo, nascida em Vigo, 1984, Wöyza atuou em Portugal pela primeira vez no mítico Hard Club de Gaia, em 2005, ano em que se estreou no rap com o EP "Siénteme". A relação com o hip hop luso foi, de resto, fundamental no despertar da carreira de Wöyza: "No Porto, havia uma cena de hip hop mais desenvolvida que em Vigo, com bares como o Comix e, sobretudo, com um público culto e informado. Tornei-me amiga dos Dealema, dos Mind Gap, da Capicua." Foi mesmo no estúdio dos Dealema, em Gaia, o 2º. Piso, que viria a ser produzido o álbum "SÍ/NO", de 2015. E a cumplicidade e admiração pelos rappers portugueses continua: "A Capicua teve um papel muito importante. Num meio dominado pelos homens, conseguiu fazer música que chegou às pessoas, não só aos rappers. Não há nada mais feminista do que isso: tocar em toda a gente, independentemente do género, da etnia ou da idade."
Essa aparente mudança na indústria do hip hop é ilusória, diz Wöyza: "Na verdade, evoluiu-se pouco. O género continua marcado pelo discurso de homens que falam uns para os outros. O que mudou foi mesmo o aparecimento das mulheres, que trouxeram um registo mais amável e formaram uma pequena indústria paralela. A feminilidade tem mais a ver com ternura do que com sensualidade."
No novo álbum, que será o protagonista do concerto, apesar de Wöyza assegurar que irá percorrer outros capítulos da carreira, o enfoque está na valorização de uma identidade artística avessa a compartimentos: "Já andei pelo hip hop, pela soul, pela música tradicional galega [no álbum "Wöyza and The Galician Messengers", de 2022]. Nunca me senti cómoda numa só gaveta. Sou o conjunto dessas experiências. E é isso que quero valorizar."
Em "Valiosa", a cantora aborda o amor sob a perspetiva da mulher que é aos 40 anos: "O que se espera na minha idade é um amor mais maduro, relaxado e real." Mas também temas sobre a luz e as sombras do Mundo atual. "Canalla" fala sobre responsabilidade coletiva: "Penso na fronteira de Espanha com Marrocos. O modo como estamos a receber os migrantes. Não se pode dizer: aqueles são uns canalhas. É toda a sociedade que está a agir coletivamente como um canalha." Já em "Sombras" há algo da "Alegoria da caverna", de Platão, a ideia de que vivemos na sombra de uma vida mais real e luminosa.
Com a participação da luso-guineense Alana Sinkëy no single "Valiosa", o novo disco de Wöyza, que cruza linguagens como o reggae, a soul ou o afrobeat, é o registo de alguém que trabalha sempre na "cumplicidade entre o pessoal e o social".