Banda de soft rock Fingertips volta à formação original e celebra 20 anos de carreira com concerto este sábado à noite na sala Mouco, no Porto.
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Foram marcantes para uma geração e podem vir a deixar impacto noutras. Os Fingertips nunca terminaram, mas o seu icónico vocalista, Zé Manel, afastou-se durante anos do grupo em que começou ainda adolescente. O reencontro foi em 2018, materializou-se no EP "Dear Jean" e é agora celebrado, tal como as duas décadas de vida da banda, num evento especial no Porto.
Hoje, a sala Mouco dá palco à "Fingertips Live XPerience 2.0", e celebra a superação do popular coletivo. Agora em nova fase, o grupo de Zé Manel, Jorge Oliveira e Rui Saraiva promete estar de olhos no futuro e garante que o evento, que permite aos fãs viverem experiências únicas, terá réplicas. Tudo pretexto para uma conversa com o vocalista.
Saiu do grupo no seu auge. Foi cansaço da estrada, do processo, da fama?
Há uma inquietação inerente aos artistas que se prende pouco com questões comerciais. Principalmente quando o contacto com tais realidades de forma tão intensa e avassaladora é vivido durante a adolescência. A urgência de fazer arte com sentido e de a relacionar com os meus propósitos humanitários sempre esteve muito vincada e creio que, de certa forma, o êxito adoeceu algumas dessas convicções e não o digeri da melhor forma. Criei conflito interior entre quem era, quem queria ser e, acima de tudo, quem parecia aos olhos dos demais. Queria muito provar-me capaz de chegar às pessoas através dos meus meios e que poderia ser celebrado a falar das coisas em que acredito. Como se costuma dizer, foi preciso perder-me para me reencontrar.
E como surgiu em 2018 voltar a ensaiar e compor?
Foi através do nosso baterista, Jorge Oliveira. Creio que o tempo se encarrega de colocar tudo no devido lugar, mas, mais do que isso, a força da música e o peso da consciência sobre o impacto que o que construímos causou na vida dos que apreciam a nossa arte e nos permitiram ser banda sonora das suas vidas. Sempre existiu um amor muito evidente das pessoas pelos temas dos Fingertips.
O que é a "Fingertips Live XPerience 2.0" em palco?
Queremos que este ano seja precisamente dedicado a esse público que tão depressa se transformou na trave-mestra da nossa união e nos instigou a desafiarmo-nos a repetir tantas proezas irrepetíveis em nome do amor à música. Pretendemos que os eventos erguidos ao longo de 2023 sejam únicos a nível dos alinhamentos e da forma como entregamos música. Cada vez mais impera que sejamos absolutamente criativos na forma como chegamos às pessoas e gostávamos que estes encontros fossem muito mais do que simples concertos, mas sim manifestos de amor pelos que compram a nossa arte e nos dedicam o seu tempo.
Os Fingertips foram importantes para a geração de 2000. Terão agora o mesmo impacto noutras?
Acho que a nossa principal preocupação será fazer música. Música com mensagem e propósito, que não tenha como objetivo atingir determinado lugar numa folha de Excel, mas sim no coração de quem nos ouça. Música que fale sobre um lugar onde todos nos sintamos mais confortáveis a viver e música que agregue e conecte os nossos ouvintes. Tudo o que daí surgir será sempre consequência.
Escreveu o tema "Picture of my own" com 12 anos. Como olha para esse miúdo que queria ser cantor? Era tudo o que queria?
Acho que só poderei responder em consciência a esta questão no dia em que esteja a fechar os olhos. Até lá é uma travessia que nos vai surpreendendo constantemente e uma onda que vou tentando surfar da melhor maneira possível - apesar das minhas evidentes incapacidades de ordem desportiva [risos]. É curioso como sempre achei a coerência um conceito sobrevalorizado, mas consigo reler o que escrevi nessa altura e sentir agora exatamente o mesmo, 20 anos depois. Esse miúdo que queria ser cantor era, na realidade, muito mais corajoso e inconsequente do que eu. Olho para ele com enorme carinho e admiração.
Quais os próximos passos?
Começamos 2023 em festa no dia 4 de fevereiro [hoje], no Porto. É o início de um ano de celebração, com vários momentos especiais, onde o passado se transformará em futuro e onde a música será o fio condutor entre nós e os que nos permitem ser artistas.