
Apesar do recuo de vendas de 17% no ano passado, livros como os de autoajuda e clássicos portugueses tiveram procura
Pedro Correia/Global Imagens
Livros de desenvolvimento pessoal e autores consagrados com forte aumento na procura ao longo do último ano.
A leitura esteve longe de ser a primeira opção dos portugueses em tempos de confinamento. Segundo dados da consultora GfK relativos ao ano passado, o mercado nacional recuou 17% face a 2019. Um cenário distinto do da generalidade dos países europeus, em que se assistiu a um enrobustecimento do setor.
Apesar de tudo, a queda acentuada não alterou por aí além o perfil das obras procuradas. Na lista dos livros mais vendidos que as quatro principais cadeias de vendas (Bertrand, Fnac, Almedina e Wook) facultaram ao "Jornal de Notícias", encontramos nomes de autores há muito habituados a estas lides, como José Rodrigues dos Santos, Nicholas Sparks, Elena Ferrante ou Raul Minh"Alma, cujos novos livros ocuparam os primeiros lugares da tabela.
Fenómenos (mais ou menos) passageiros como a profusão de títulos sobre Auschwitz e os desafios do jejum estão também refletidos nesses tops, em que conseguimos, todavia, encontrar "intrusos" pertencentes à área científica. São os casos de "Sentir & saber", do neurologista António Damásio, e "Sapiens", do historiador israelita Yuval Noah Harari, também adaptado a novela gráfica.
Tempo para ler clássicos
Em alta há vários anos, os livros de desenvolvimento pessoal viram a sua procura reforçada neste período. Além do best-seller "A arte subtil de dizer que se f*da", presença assídua nos tops há três anos, vários foram os livros que somaram edições, com destaque para "Tu és aquilo que pensas", de James Allen.
Os dados mais surpreendentes acabaram por vir das livrarias independentes, que registaram um aumento claro da procura de autores clássicos. "Como as editoras cancelaram muitas novidades e os leitores não sabiam bem o que comprar, viraram-se, em muitos casos, para esse género de obras", justifica Helena Girão Santos, livreira da Fonte de Letras, em Évora.
Também na Livraria União, em Ponte de Lima, foram as obras de consagrados que suscitaram maior procura, tendo-se destacado nesse domínio os nomes de George Orwell, José Saramago ou Vergílio Ferreira.
Para a gerente, Ana Pereira, o que suscitou essa apetência particular foi "o tempo suplementar que as pessoas passaram a dispor, o que as levou a fazerem leituras há muito adiadas".
Na Excelsior, em Vila Nova de Gaia, António Vasconcelos, o proprietário, realça "a apetência por autores portugueses, sobretudo clássicos" e a inesperada preferência por "obras mais caras, sobretudo primeiras edições".
No segmento infantil, a grande tendência, segundo Miguel Gouveia, da Bruaá, na Figueira da Foz, foi a forte procura por jogos familiares, puzzles e atividades lúdicas. "Esgotámos o stock em poucos dias", acrescenta.
