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Caetano e os filhos Moreno, Zeca e Tom Veloso regressam a Portugal para apresentar "Ofertório". O músico lendário contou ao JN como tudo começou.
Caetano Veloso cresceu "com a certeza de que nunca teria filhos". Hoje anda com eles em digressão, a celebrar a vida "melhor, maior" que Moreno (46 anos), Zeca (27) e Tom (22) lhe proporcionaram. "Ofertório", o espetáculo ao vivo que junta os quatro em palco, regressa na segunda-feira ao Coliseu do Porto, para ver e ouvir o quarteto. "O Porto é uma das cidades mais lindas do Mundo", diz Caetano ao JN a propósito de um episódio que o marcou na viagem do ano passado (ler caixa).
Este será o primeiro de seis concertos em Portugal (Lisboa, Figueira da Foz, Faro e Ponta Delgada são os outros palcos), depois de passagens pelo Brasil, Estados Unidos, Argentina, Chile e Alemanha. "Tínhamos planos carinhosos, mas modestos sobre nosso show", confessa o baiano, satisfeito pela receção do público. Mas já passaram dois anos desde a estreia e "os convites só aumentam". E o tempo não diluiu o júbilo que Caetano coloca sobre a apresentação: ""Ofertório" me dá a mais gloriosa alegria que um homem pode imaginar".
Ideia que deu certo
A ideia viveu "por muito tempo" na cabeça de Caetano Veloso. Depois de ter feito um espetáculo com Moreno, "que foi uma das melhores coisas" que já lhe aconteceram, e de ver Tom, o caçula, estabilizar a jovem carreira com a banda Dônica, achou que era tempo de propor o desafio de uma celebração musical a quatro. Começou por convidar Zeca. "Ele não aceitou. Não tinha planos de se profissionalizar em música e é muito exigente com relação a tudo que faz e ouve", conta Caetano. "Ele me estimulou a fazer o show com Moreno e Tom. Eu não quis".
Passados uns meses, Zeca reconsiderou e decidiu participar. Tom e Moreno juntaram-se na hora e o espetáculo, de quase duas horas, chegava aos palcos em outubro de 2017.
No palco como na sala
"Ofertório", entretanto lançado em CD e DVD, é um desfile de 28 temas, escolhidos, em larga maioria, por Caetano Veloso. O registo é acústico para acentuar a familiaridade do ambiente: é num palco, podia ser na sala lá de casa. Todos tocam e todos dão voz às músicas. E há canções de todos. "Coisas que cresceram em nós, de nós", descreve Caetano.
No palco, Caetano confessa que fica "comovido" quando Zeca toca, ao piano, "Todo Homem" - uma das grandes revelações, senão a maior de todo o espetáculo.
Sente-se arrebatado "ao ver Tom dançando passinho de funk carioca" em "Alexandrino" ou Moreno a cantar "Um passo à frente". Emociona-se consigo próprio a interpretar "Ofertório", música que compôs em 1997 para Dona Canô, sua mãe, e que hoje dedica aos três filhos. São, aliás, dessa música três versos que sintetizam na perfeição a natureza do espetáculo: "Toda essa alegria / Que espalhei e que senti / Trago hoje aqui".
Serenata e elogio ao Porto
A viagem de Caetano Veloso para o Porto para a estreia de "Ofertório" na Invicta, há um ano, ficou na memória do músico brasileiro. A bordo do avião que ligou Barcelona ao Porto, um grupo de passageiros dedicou-lhe, em coro, "Sozinho", num gesto espontâneo que "surpreendeu" e "emocionou" Caetano Veloso. "O Porto é uma das cidades mais lindas do Mundo", atira. O baiano recorda-se de ter trazido o filho Zeca quando veio apresentar "Zii e Zie" (2010) e o levou a Gaia "para ver o Porto do alto, ver o Douro, ver a beleza imensa dessa terra. Fico feliz de voltar outra vez com ele e os outros dois", diz.
