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"E no fim, o amor que levas é igual ao amor que fazes". Se excluirmos a faixa oculta de 23 segundos, "Her Majesty", é com este verso do tema "The end" que termina o último álbum gravado pelos The Beatles, "Abbey Road", que foi lançado no Reino Unido há exatamente 50 anos. É a frase de despedida de uma banda que mudou o Mundo.
A 20 de agosto de 1969, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr reuniam-se no estúdio da EMI pela última vez, e seis dias antes do disco ser posto à venda, Lennon anunciava a sua saída do grupo. Sem darem espetáculos desde o célebre "rooftop concert", em janeiro de 1969, roídos por uma série de divergências artísticas e empresariais, os The Beatles só terminariam formalmente em abril de 1970, com a saída de McCartney. Em maio seria editado o seu derradeiro álbum (o 12.º de originais), "Let it be", que fora no entanto gravado antes de "Abbey Road".
"Vamos fazer um álbum como nós costumávamos fazer?", sugeriu McCartney ao produtor George Martin, o "quinto Beatle", que trabalhara na maior parte dos discos do grupo, mas que estivera afastado das gravações de "Get back/Let it be" (produzido por Phil Spector). Martin aceitou e o grupo voltou a reunir-se em estúdio, mas já não da forma como "costumava fazer", pois as tensões regressaram e as possibilidades técnicas evoluíram.
Uma passadeira mítica
Lançado a 26 de setembro de 1969 com uma capa que instantaneamente tornou mítica a passadeira da Abbey Road, a rua dos estúdios onde foi gravado, é um trabalho com dois lados bem distintos.
O primeiro com uma recolha de canções relativamente convencionais; o segundo com um longo "medley" que colava fragmentos de oito temas inacabados. "Um feito à Fernão Magalhães. Admirável, corajoso, único", disse ao JN Luís Pinheiro de Almeida, jornalista e radialista, autor de "Beatles em Portugal" e do recente "Com os Beatles, caro Jó" (Documenta, 2019). O especialista coloca "Abbey Road" no primeiro lugar da sua lista de discos preferidos dos The Beatles, "ex aequo com os restantes", porque cada trabalho da banda era o seu "melhor álbum".
Já para o cantor e compositor Tozé Brito, "Abbey Road" não consta entre os seus favoritos. "The Beatles", "Rubber Soul" ou "Revolver" ocupam os lugares cimeiros. "A banda estava a desmoronar-se e isso sentia-se nas canções", diz Brito. "Cada um ia gravar sozinho para o estúdio e o Martin é que fazia os milagres e resolvia as incompatibilidades".
Posição contrária tem Alexandre Monteiro, conhecido como Weatherman, músico assumidamente influenciado pelos quatro de Liverpool, que se casou ao som de "Here comes the sun", tema de "Abbey Road" escrito por George Harrison. "Este disco é um esforço final para que a banda saísse em grande. Tem um lado clássico e um lado experimental. Estendeu o tapete para muito do que se viria a fazer nas décadas seguintes", diz Weatherman, que se sente "transportado para um jardim solarengo" quando o ouve.
Novas edições lançadas na sexta-feira
Chegam na sexta-feira às lojas novas edições de "Abbey Road", com os temas remisturados em stereo pelo filho de George Martin, Giles Martin, e por Sam Okell. A edição "deluxe" inclui um segundo CD com maquetas e outras versões das 17 canções do disco, assim como um livreto de 40 páginas. A "super deluxe" contém 40 temas divididos por 3 CD, um disco blu-ray e livro de 100 páginas com prefácio de Paul McCartney.
