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Perfil dos compradores tem-se alterado. Compra de obras antigas é cada vez mais vista como um investimento.
Em declínio há muito, a venda de livros raros e antigos sofreu uma inesperada reviravolta nos últimos anos, registando subidas que estão a surpreender as próprias leiloeiras responsáveis pelas vendas.
Nos últimos cinco anos, os leilões online tornaram-se recorrentes, ao ponto de algumas leiloeiras importantes, como o Palácio do Correio Velho, já dispensarem as típicas vendas presenciais, o que não significa que os livros não possam ser consultados "in loco" pelos potenciais interessados. "Os leilões online vieram alargar o espetro dos clientes", reconhece Sebastião Pinto Ribeiro, administrador da leiloeira.
O impacto da tecnologia neste segmento de negócio tradicional não se limita aos leilões tradicionais, já que mesmo nos tradicionais é cada vez mais frequente as licitações serem feitas por correio eletrónico.
O crescimento dos últimos anos não foi ainda suficiente para que o novo segmento seja já o mais significativo em termos absolutos, sobretudo porque, como afirma o leiloeiro Pedro Azevedo, da Cabral Moncada, "a tendência é que o valor médio dos livros vendidos online seja mais baixo".
O mesmo especialista aponta também outra transformação que está a alterar de forma profunda este segmento: "a substituição do bibliófilo tradicional pelo comprador que adquire um livro a pensar na sua valorização futura".
A chegada de investidores recentes ao setor - que transacionam um livro ao fim de poucos anos para obterem mais-valias - é uma realidade indesmentível dos últimos anos. Herculano Ferreira, da Livraria Manuel Ferreira, no Porto, acredita que esse é um dos motivos pelos quais "nunca rareou tanto o livro raro". E explica porquê: "Os livros não desapareceram nem deixar de ter valor, mas é cada vez mais difícil encontrarmos livros raros".
Até mesmo os colecionadores tradicionais, bibliófilos à moda antiga, já assimilaram as novidades. Advogado de Barcelos com uma valiosíssima biblioteca quinhentista e seiscentista, incluindo vários incunábulos, Francisco Marques compra atualmente boa parte dos livros pela Internet em colecionadores de todo o Mundo, dos Estados Unidos à Austrália. O desconhecimento que muitos dos vendedores têm em relação a livros em seu poder faz com que "já tenha comprado obras por um décimo do seu valor real", observa.
Tesouros nacionais dispersos pelos cinco continentes
"Trazer para Portugal obras raras de autores portugueses no estrangeiro" é o objetivo de Francisco Marques, colecionador que tem adquirido, em leilões ou por catálogo de numerosos países, livros de Diogo de Teive, Francisco Sanches, Garcia de Orta ou Damião de Góis.
"Apesar desse esforço, muitas vezes tenho que pagar nas alfândegas IVA de 23%", lamenta o advogado de Barcelos.
