
Madonna
REUTERS/Mario Anzuoni
Em meia hora esgotou três espetáculos no Coliseu dos Recreios, anunciou três novas datas e vendeu os bilhetes todos num dia. O feito digno de realeza foi conseguido por Madonna, que lança amanhã "Madame X", álbum inspirado em Portugal e na sua vivência em Lisboa.
Naquela cidade, em janeiro, sobe ao palco do Coliseu dos Recreios em seis datas esgotadíssimas, de 16 a 23.
Quando ouviram o álbum "Madonna", em 1983, muitos críticos anteviam longa carreira àquela jovem de 24 anos chamada Madonna Louise Veronica Ciccone que irrompia pelas tabelas do Billboard. O que não estariam à espera era que, aos 60 anos, em 2019, o conjunto de feitos e reinvenções ainda a mantivessem no topo do estrelato. Não é à toa que lhe chamam rainha da pop.
O trono é tanto dela que se dá ao luxo de mudar radicalmente o estilo musical, num ato de coragem e irreverência que é este "Madame X", 14.o álbum de estúdio, composto por 15 faixas que alternam entre português, inglês e castelhano.
"É um privilégio só das estrelas. Por isso é que se chamam estrelas", conclui Álvaro Covões, da Everything is New, produtora dos espetáculos de janeiro. Ao todo, foram vendidos 16 mil bilhetes entre 75 e 400 euros para seis concertos com uma lotação máxima que não ultrapassa as quatro mil pessoas. Não foi um recorde de preço para o espaço da Rua das Portas de Santo Antão, mas andou lá perto.
Lisboa, Paris e Londres
O fenómeno explica-se pela carreira, pelo novo álbum e pelo facto de só três capitais da Europa receberem a digressão de Madame X: Lisboa, Paris e Londres. Isto, para além de ser uma produção mais próxima do público, destoante dos grandes espetáculos de estádio ou festival, o que faz com que "todos estejam na primeira fila", assinala o produtor. No Coliseu, estarão portugueses e espanhóis em maioria. Nas colunas, ecoará um "Madame X" inspirado em Lisboa e carregado de vivências do Mundo latino.
Estilo certo
Musicalmente, é o estilo certo na época certa. Há uma inegável tendência para a pop mainstream se aproximar dos ritmos latinos e, em Lisboa, Madonna encontrou a inspiração certa para entrar neste comboio. "Madame X" está repleto de um reggaeton de sensualidade lírica que engloba os três ingredientes que constroem o R&B moderno. E tem uma versão de "Faz gostoso", sucesso da portuguesa Blaya.
Ainda assim, o álbum é feito de conflitos. Há antagonismos como amar Lisboa e sentir-se sozinha nela, entre a pop dançável e baladas lentas, entre o som universal e a influência local. Não há como dissociar Madame X daquilo que é a vivência de Madonna em Lisboa. Ela própria já admitiu que a inspiração para o novo álbum nasceu no Tejo Bar [ler página ao lado], mas isso sente-se mais quando se ouvem alusões ao fado pela guitarra portuguesa em "Killers who are partying" ou quando canta "Eu te amo, mas não deixo você me destruir".
Reinvenção constante
Se olharmos para "Madame X" e o pusermos em confronto com os outros 13 álbuns, vemos uma continuidade na reinvenção constante. Desta vez, essa metamorfose eterna levou-a a uma mescla de estilos que parecem transparecer dúvidas sobre qual o caminho a seguir. Mas essa é também a incerteza da sua vida pessoal, e esse paralelismo entre a música e a mulher, entre a rainha da pop e a mãe de seis filhos, é já marca d"água de uma carreira inigualável que consegue esgotar seis Coliseus dos Recreios.
