![Exposição "Douro [Dwr]3 solos entre o céu e a terra"](https://staticx.noticiasilimitadas.pt/jn/image.webp?brand=jn&type=generate&guid=5edb28b8-8ba6-4ca9-a6be-054b5080c876&w=3840)
Exposição "Douro [Dwr]3 solos entre o céu e a terra"
André Rolo/Global Imagens
Depois de três meses na consagrada instituição La Cité du Vin, em Bordéus, a exposição "Douro [Dwr] 3 solos entre céu e terra" chegou ontem ao Porto. O desafio foi lançado pela Fundação para a Cultura e as Civilizações do Vinho à Câmara do Porto, no âmbito dos 40 anos da geminação das cidades do Porto e Bordéus. Os curadores escolhidos foram Nuno Faria, diretor artístico do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, e a antropóloga Eglantina Monteiro.
O cenário expositivo, no Porto, é distinto do francês - com as galerias brancas do futuro Museu da História da Cidade, no Parque da Pasteleira, a convocarem a presença da água. Ainda assim, mantêm-se as relações telúricas nos objetos artísticos, com o cheiro a terra e a cera de abelhas a exalarem de campânulas sonoras criadas pelo coletivo de arquitetos do Porto SKREI. Dentro delas podem ouvir-se textos de Miguel Torga ou Agustina Bessa-Luís.
O coletivo SKREI expôs um pantógrafo e, à sua frente, um cubo de cera de abelhas, que tem impressa uma forma humana, criando uma atmosfera espectral transversal a toda a exposição, exacerbada também pelas imagens de Emílio Biel e de Domingos Alvão.
O território do lugar
"Esta exposição é uma (e)vocação animista da região, que convoca a voz dos homens, o canto das aves, o som metálico do xisto, o correr das águas e o sopro do vento", refere Eglantina Monteiro. A sonoplastia, com cânticos da região, alguns recolhidos por Michel Giacometti, aprofundam a experiência.
Há amostras de solo de diferentes locais - que contam também histórias - e os visitantes podem exibir, num retroprojetor, as folhas das 103 castas do Douro. A explicação do enólogo Mateus Nicolau de Almeida e a contextualização histórica são enriquecedoras.
Eglantina Monteiro nota o distanciamento dos clichés sobre o património do Douro. "O que nos interessava era trabalhar o Douro e quem trabalha a terra, o território do lugar, humanizado", acrescentou. "É uma exposição que se construiu em duas dimensões concomitantes e que aqui se articulam bastante bem: uma dimensão material (terra, pedra, xisto, água) e uma dimensão imaterial ou espiritual", contou Nuno Faria.
