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Teatro Municipal do Porto festeja aniversário durante seis dias. Programação arranca na próxima terça-feira, com nove projetos e mais de 90 artistas. E há edição do Cadernos do Rivoli em dose dupla.
Entre os equipamentos municipais do Porto que não precisariam de datas simbólicas para serem merecedores de atenção, o Teatro Rivoli ocupará decerto um lugar central. Mas porque os artistas apresentados num Teatro constituem, tal como os públicos que o aquecem, não só a razão maior da sua existência (e da sua persistência) mas também o traço principal da identidade desse espaço e da cidade a que pertence, os 90 anos do Rivoli serão comemorados, a partir de terça-feira, de braço dado com os criadores do Porto.
"É uma ode à cultura e um obrigado aos artistas da cidade. E é a prova de que, nos últimos anos, o Porto passou a ser uma capital cultural", vincou, esta quarta-feira, Tiago Guedes, diretor artístico do Teatro Municipal do Porto (TMP), na conferência de apresentação do programa de aniversário que irá prolongar-se por seis dias.
Celebra-se a cumplicidade entre os artistas e os públicos, e a memória viva de um Teatro que há sete anos foi devolvido à cidade e recentrado na sua missão original: "ser uma janela privilegiada do Porto para o mundo, e do mundo para o Porto", lembrou Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto e vereador da Cultura. "É esta relação que se assinala num programa que reflete multidisciplinaridade, qualidade, vitalidade e a versatilidade da cena artística do Porto, espelhando a história e a missão deste Teatro."
Ao todo, serão apresentados nove projetos, quase todos em estreia, envolvendo mais de 90 artistas em nove áreas distintas: dança, teatro, performance, circo contemporâneo, literatura, música, cinema, um projeto multidisciplinar e uma instalação. As propostas habitarão várias salas: além do Rivoli e do Campo Alegre, junta-se o Coliseu, o Teatro do Bolhão, o Maus Hábitos e o Cinema Passos Manuel.
A ocasião serve ainda de pretexto para o lançamento de uma edição dupla do "Cadernos do Rivoli" (dia 19, às 18h, Paços do Concelho), projeto lançado por Isabel Alves Costa em 2002, e entretanto também resgatado do esquecimento.
"A devolução de um teatro é também isso: tornar a memória permanente, inscrevendo-a nas práticas do presente, sob pena de não sabermos quanto vale um discurso se não atendermos às consequências das suas intenções", escreve Tiago Bartolomeu Costa, editor dos Cadernos, no volume 9, reunião de 16 ensaios inéditos que ajudam a explicar de que forma "o discurso artístico se tornou parte constitutiva da identidade coletiva do TMP". Já o volume 8, disponibilizado em simultâneo, é um concentrado de 600 páginas sobre nove décadas de histórias, lugares e personagens, tendo o Rivoli como ator principal. Ambos, resume o editor, "contam a história de um teatro que moldou a cidade".
No futuro que se faz agora, Catarina Miranda, criadora da nova geração que tem sido acompanhada pelo Rivoli, terá também a sua história para contar. É ela quem dá o tiro de partida na maratona de eventos, todos gratuitos, com a inauguração de "Poromechanics" (Maus Hábitos, dia 18, 19h30), projeto que é ponte para "Cabraquimera", peça apresentada no ano passado no Festival Dias da Dança DDD).
A Palmilha Dentada, companhia igualmente em festa - celebra duas décadas de vida e de humor -, estreia esta quarta-feira, no Pequeno Auditório do Rivoli, "12 Efeitos de luz", mas a criação de Ricardo Alves com banda sonora de músicos como Manel Cruz, terá mais quatro récitas (dias 19, 20, 22 e 23).
5 Destaques da programação
Dia 19, quarta-feira
Curador há mais de 15 anos do ciclo Quintas de Leitura, João Gesta preparou uma edição especial para o aniversário do Rivoli. "No teu rosto começa a madrugada" convoca nove poetas de gerações diferentes (Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Manuel António Pina, Alberto Pimenta, Ana Luísa Amaral, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Ana Paula Inácio, Daniel Jonas e Luís Ferreira), todos ligados ao Porto, e terá duas sessões, nos dias 19 e 20, no Coliseu Porto Ageas, às 22 horas.
Dia 20, quinta-feira
Guilherme de Sousa e Pedro Azevedo (artistas associados nas temporadas 2019/20 e 2020/21) apresentam "Finissage", obra que parte do "universo do Museu de Arte Contemporânea - um contexto ilimitado, provocador e sensorial, que desencadeia reações e comportamentos de natureza diversa e particular". No Campo Alegre, às 19h30.
Dia 21, sexta-feira
Jonathan Uliel Saldanha (artista associado do TMP nas temporadas 2020/21 e 2021/22) fundou os
HHY & The Kampala Unit e criou um território musical que "mistura onde o dub, o techno, a percussão visceral e os sopros marciais num espaço onde o trance é condutor de paisagens sintéticas que catalisam o corpo vibrante do clube". No Subpalco do Rivoli, às 23 horas.
Dia 22, sábado
O bailarino e coreógrafo Helder Seabra apresenta a nova criação para a Instável. Em "Lowlands", a "fisicalidade dos intérpretes surge ligada ao inconsciente e torna-se na sua personagem principal. Através de uma estética de dança e teatro de elevado nível físico e experimental, visita-se o mundo de histórias internas que se desdobram para além da linguagem e da palavra." No Grande Auditório do Rivoli, às 21h30.
Dia 23, domingo
Impulsionadora do circo contemporâneo na cidade, a companhia Erva Daninha apresenta "Dual SIM", criação em que "dois malabaristas assumem o desafio da partilha constante e obrigatória de todos os recursos, num estudo sobre a distribuição de objetos entre dois corpos, passes-receções-partilhas". No Palácio do Bolhão, às 16h30.
