
Tralala é a sugestão da semana
Direitos Reservados
"Tralala", dos irmãos Arnaud e Jean-Marie Larrieu, é a boa surpresa da semana
Há irmãos realizadores cuja obra cinematográfica em comum se tornou há muito objeto de culto. Basta pensar nos Coen ou nos Dardenne, para citar nomes que vão do cinema americano independente ao filme europeu, para percebermos que, por vezes, estas irmandades dão resultado.
Arnaud e Jean-Pierre Larrieu não são gémeos, mas nasceram com menos de um ano de distância, a meio da década de 1960, na cidade de Lourdes, um dos centros míticos e místicos da religião católica.
"Tralala" - será o título a resposta francesa ao americano "Lalaland"? - é a sétima longa-metragem dos Larrieu e é absolutamente imperdível para quem gosta de cinema, fazendo-nos perguntar porque razão estes dois irmãos não têm ainda entre nós também eles o culto que merecem.
Da sua filmografia, já vimos entre nós títulos que dão desde logo a ideia da diferença e originalidade do seu cinema como "Pintar ou Fazer Amor", "Viagem aos Pirinéus" ou "O Amor é um Crime Perfeito". Do seu cinema emergem então conceitos e temas como o da viagem, da relação do humano com o ambiente que o rodeia, as paixões, o desaparecimento, a identidade...
Muitos desses temas confluem em "Tralala", um filme em estado de graça, muito pelo facto dos Larrieu regressarem à sua terra natal, Lourdes. A história começa em Paris, onde encontramos Tralala, um músico de rua que vive num edifício abandonado, prestes a ser demolido. Um encontro místico , uma verdadeira aparição, com uma rapariga vestida de azul, leva-o então à cidade de Deus e dos Larrieu.
Aí, Tralala depara-se com personagens que veem nele o filho, o irmão, um amor antigo, que reaparecera apesar de julgado morto. Que importa a uma velha paixão se lhe falta o sinal característico numa das nádegas se ele lhe dá prazer três vezes de seguida?
Mas desde o encontro de Tralala com um operário emigrante que trabalha perto de onde vive que percebemos que o filme é um musical. Delicioso no trabalho lírico e coreográfico, não pode deixar de evocar Jacques Demy, sem deixar de ser Larrieu(s). E que bom é ver Mathieu Amalric na extraordinária criação de uma personagem que nunca nos vai deixar, liderando um elenco sublime onde ainda encontramos Josiane Balasko, Melanie Thierry, Maiwenn, Denis Lavant... E este magnífico divertimento só o pode ver na sala escura.
