Reino Unido e França estão a registar reforço publicitário por parte das gigantes de vestuário low cost: a Shein e a Temu. Tarifas aduaneiras de Trump redirecionam investimento dos EUA para o 'velho continente', mas, já em abril, os setores do calçado e têxtil nacionais alertavam para efeitos secundários destas medidas
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Em pouco menos de um mês, as gigantes low cost da moda Shein e Temu reduziram acentuadamente o investimento publicitário nos Estados Unidos da América e redirecionaram-no para a Europa. O movimento deve-se ao aumento de tarifas alfandegárias decretadas pelo presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, no início de abril.
Dados da plataforma de medição económica digital Sensor Tower divulgados pela agência noticiosa Reuters indicam que, em apenas um mês, a Shein reforçou investimento publicitário em 35% em França e no Reino Unido. Já a Temu aumentou as campanhas em França, em 40%, e no Reino Unido, em 20%.
Do outro lado do Atlântico, a mesma plataforma indica que o investimento da Shein em redes como Facebook e Instagram caiu 19% entre 31 de março e 13 de abril, um valor que comparava com dados do mês anterior. Já a Temu fez um corte ainda maior com os EUA, reduzindo em 31% o investimento publicitário, como referem os dados.
Recorde-se que Trump pôs ainda fim a minimis, um procedimento que permite o envio de encomendas até 800 dólares sem cobrar taxas. A Europa tem também este modelo, mas aplicado a um teto de até 150 euros. Em entrevista à Delas.pt/ Jornal de Notícias, tanto as associações do têxtil e do calçado portuguesas tinham alertado para a urgência da mudança deste regime, sob pena de fuga massiva dos produtos que iam para os EUA passarem a entrar mais na Europa e atacarem duplamente a produção europeia.
“Se a China (com 56% de exportações de calçado) e o Vietname (10%) tiverem mais dificuldades de exportação para os EUA - com taxas mais pesadas -, eles vão fazer mossa noutros mercados”, alertava, então, o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos (APICCAPS). Paulo Gonçalves antecipava, no início de abril, “um efeito colateral que temos muita dificuldade em avaliar e não gostaríamos que acontecesse”, lembrando que “os dois grandes maiores produtores de calçado farão mais concorrência dentro de portas” da Europa.
Por seu turno, o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e de Confeção (Anivec) sublinhava a importância da União Europeia ter de “regular muito bem porque os países que não vão poder exportar para os EUA, vão tentar escoar na Europa, e nós não aguentamos isso”. Explicava César Araújo, também em abril, que “85% da roupa consumida na Europa chegava ao abrigo do regime de Sistema de Preferências Generalizadas (SPG), vendas entre empresas sem pagar taxa aduaneira”. Fator a que se juntavam “os Minimis - regime de países terceiros diretos ao consumidor - e que representam são entre 7 a 10%”. Contas feitas, “falamos de quase 95% de entradas no mercado europeu” ao abrigo dessas regras. Se se mantiverem, Araújo alertava para o “risco de colapso de todo o comércio europeu como o conhecíamos”. “Não há mercado nenhum, por muito saudável que seja, que resista a estes impactos”, alertou o presidente da Anivec.