Apresentador do "Masterchef" britânico enfrenta 45 confirmações de má conduta e assédio
Gregg Wallace, apresentador do concurso "Masterchef", no Reino Unido, vê confirmadas 45 das mais de 80 denúncias de má conduta e mesmo de alegado assédio sexual de que é alvo. Investigação confirma denúncias inicialmente reveladas numa reportagem da estação pública britânica BBC, em 2024
Corpo do artigo
Uma investigação independente confirma que o apresentador Gregg Wallace, de 60 anos, está acusado em 45 denúncias – das 83 que lhe são imputadas - de assédio sexual e conduta imprópria, envolvendo múltiplos relatos que vão desde um contacto físico indesejado a três denúncias de nudez no local de trabalho, passando pela linguagem sexual inapropriada e comentários de várias naturezas, entre eles de caráter racista.
O relatório que foi encomendado a um escritório de advogados independente traz à luz o que uma investigação da estação pública britânica tinha já revelado, no final do ano passado. Na ocasião, a reportagem da BBC News trazia relatos de denúncias contra o anfitrião do formato, numa sucessão de casos que teriam tido lugar desde 2005 e durante as gravações do programa de culinária. Contudo, depois da emissão da reportagem, o número de vítimas que trouxeram relatos de conduta inapropriada disparou: às 13 que falaram inicialmente somaram-se mais de 50 pessoas a denunciarem casos semelhantes com Wallace, e até em outros momentos profissionais.
O relatório agora revelado indica que a maioria das alegações (94%) contra o apresentador ocorreram entre 2005 e 2018, com uma delas a surgir após esse ano. O mesmo documento indica que, durante o curso das investigações, o apresentador, que nega as acusações, afirma ter sido diagnosticado com autismo e que as agressões que lhe são imputadas deveriam ser “vistas no contexto de neurodiversidade”, considerando que Wallace aceitava que o “diagnóstico pudesse ajudar a explicar algumas das suas ações, mas que não desejava esconder-se atrás dele”. Contudo, as instituições que lidam com esta realidade vieram a terreiro deixar claro, na semana passada, que os comportamentos não podem ser correlacionados com diagnóstico alegado.
Produtora e canal lamentam não terem sido cabais a lidar com as denúncias e de não terem agido mais profundamente nesta matéria uma vez que a equipa que levou a cabo a investigação encontrou provas de que foram levantadas, entre 2005 e 2024, seis queixas contra o apresentador junto da produtora e da BBC e que "ações mais formais foram tomadas pela produtora em 2015 e pela BBC em 2017", como refere o comunicado.
“Lamentamos profundamente que qualquer pessoa que tenha sido afetada por este comportamento e se sentiu incapaz de se manifestar naquele momento ou que a reclamação que fez não foi tratada de forma adequada”, afirmou o diretor-executivo da produtora, Patrick Holland. Já a BBC, em comunicado, admite que “foram perdidas oportunidades para resolver este comportamento – tanto pela produtora do "MasterChef" como pela estação”. “Aceitamos que mais poderia e deveria ter sido feito mais cedo”, refere, sublinhando que não tenciona trabalhar mais com o apresentador. Um “corte de laços” que foi congratulada pelo governo britânico. “Temos certeza de que devem ser tomadas medidas apropriadas para garantir que os abusos de poder sejam evitados no futuro”, afirmou o porta-voz oficial do primeiro- ministro, citado pelo site da estação pública britânica. A BBC explica que ainda não foi tomada nenhuma decisão sobre a nova temporada do concurso de talentos culinários, que conta com Wallace como apresentador e que foi gravada no final do ano passado.
O apresentador tem vindo a negar as acusações e, na semana passada, emitiu um comunicado na rede social Instagram no qual retiterou que não irá ficar em silêncio “Não serei cancelado por conveniência. Fui julgado pelos media e fiquei em suspenso bem antes de os factos serem apurados”, escreveu, como cita a agência noticiosa Asasociated Press. Wallace foi dispensado pela estação na semana passada.