Calçado "barefoot". Podologista e ortopedista explicam o que é, o que vale, riscos e benefícios

A marca italiana Vibram foi uma das pioneiras a lançar este modelo com cinco dedos dos pés bem marcados no calçado
Foto: Instagram/Vibram
Têm biqueira bem larga, espaço para os dedos dos pés, sola fina e flexível e não apresentam clivagem na altura. Os sapatos, ténis e também botas "barefoot" são uma tendência cada vez maior, mas estão muito além de serem apenas um produto da moda. Especialistas explicam porquê e lembram que modelo não se aplica a todos da mesma maneira
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O calçado e o conforto, e mesmo a saúde dos pés, nem sempre caminham lado a lado. Os impactos dos saltos altos, das botas fofas, mas sem reforços laterais nos tornozelos e com risco de entorses, as solas demasiado finas e as biqueiras estreitas há muito que estão sob o radar de especialistas, que procuram alertar para as especificidades de cada uso e de cada pessoa.
Recentemente, a aposta nos "barefoot" - modelo de calçado conhecido por ter biqueira larga , com ou sem dedos dos pés bem marcados, sola fina e flexível, ausência de altura, recurso a materiais leves e respiráveis e a sensação de quase andar descalça - tem vindo a conquistar cada vez mais adeptos e a oferta multiplica-se em Portugal. Mas quais os impactos e o que deve ser acautelado se vai optar por este tipo de produto?
Para a podologista Carla Ferreira, "a decisão de utilizar calçado "barefoot" deve integrar uma avaliação clínica criteriosa e uma reflexão sobre as necessidades do indivíduo, ou seja, não deve ser baseada apenas nas suas vantagens anatómicas e funcionais", considera. A especialista dos Lusíadas sublinha que "o aconselhamento permite potenciar os benefícios, nomeadamente promoção da mobilidade, proprioceção, equilíbrio e conforto, e minimiza os riscos, contribuindo para uma transição bem-sucedida e sustentada a longo prazo".
Podologista Carla Ferreira
O ortopedista Luís Frederico Braga concorda e considera tratar-se de uma opção "fisiológica e anatómica para o pé e para a marcha", salvaguardando a existência de "várias opções de sola com maior ou menor proteção ou rigidez consoante a necessidade e preferência do doente". Refere, por isso, ser uma opção ideal para "um período de recuperação de uma cirurgia e na prevenção das doenças dos pés, por não constituir uma agressão como acontece com inúmeras marcas do mercado".
Ortpedista Luís Frederico Braga
Carla Ferreira elenca outros motivos e que passam pelas "propriedades que permitem uma movimentação natural, ajuste confortável e uma melhor perceção do solo, aspetos considerados essenciais para a saúde dos pés segundo especialistas".
Contudo, a podologista deixa também alguns avisos e cita a investigação para o fazer. "A evidência científica atual destaca que a adoção do 'barefoo' não é universalmente recomendada", em particular "indivíduos com alterações estruturais, instabilidade articular ou determinadas patologias". A especialista alerta para o facto de "a ausência de apoio e de amortecimento pode aumentar o risco de lesões, sobretudo em fases iniciais de adaptação" e sublinha que "a transição brusca para este tipo de calçado pode potenciar sobrecarga nos músculos e tendões do pé, levando a microlesões ou desconforto persistente".A solução passa por "avaliação individualizada e uma adaptação progressiva e segura".

