A mulher francesa que foi vítima de sedação e abuso por parte do marido e de centenas de homens angariados por este, durante anos, e que quis que o julgamento fosse feito à porta aberta acaba de vencer o prémio Liberté. Uma escolha feita por cerca de dez mil jovens de 84 países
Corpo do artigo
O escândalo sexual que abalou França e o Mundo e que colocou a francesa Gisèle Pelicot sob os holofotes, transformou-a também num ícone de luta feminista. A mulher que quis que o julgamento do marido – que a drogou para que ele e outros homens a violassem enquanto dormia – fosse à porta aberta para que “a vergonha mudasse de lado” venceu agora o prémio Liberté. Este galardão resulta da escolha de cerca de dez mil jovens, com idades entre os 15 e os 25 anos, oriundos de 84 países.
O site francês Nouvel Observateur refere que a eleição se deveu “à luta dela contra a banalização da violação e da violência sexual”. Entre os escolhidos para os prémios deste ano, estão também nomeadas a Associação Belga de Pessoas Afetadas pela Guerra (Wapa), que apoia crianças afetadas por conflitos armados, e Melati Wijsen, ativista indonésia de 24 anos que luta contra o impacto do plástico no ambiente.
O prémio, com um valor de 25 mil euros, vai ser entregue a 3 de junho, em Caen, na Normandia, na presença de milhares de jovens e de 30 veteranos da Segunda Guerra Mundial. O Liberté, criado em 2019, destina-se a galardoar a “consciência educativa para a liberdade, a paz e os direitos humanos”.
Recorde-se que Gisèle Pelicot tinha sido eleita uma das 100 pessoas mais influentes de 2025, na categoria de Ícones, pela revista norte-americana Time, em abril. A francesa integra também a shortlist de três finalistas ao Prémio Vigdis, pelo empoderamento feminino, atribuído pelo Conselho da Europa e cuja vencedora será anunciado a 23 de junho. Entre as nomeadas estão também a The Green Girls Organisation, que promove a formação de 12 mil mulheres e raparigas em Inteligência Artificial pelo clima, e a Women of The Sun, associação palestiniana independente que reúne mulheres palestinianas e israelitas, facilitando o diálogo e promovendo a compreensão mútua.
Em março último, foi revelado que Gisèle Pelicot está a preparar um livro sobre o seu percurso, intitulado Um hino à vida, que será publicado em 20 idiomas, em janeiro de 2026. "Estou imensamente agradecida pelo extraordinário apoio que recebi desde o início do julgamento. Agora, quero contar a minha história com as minhas próprias palavras", declarou Gisèle Pelicot, citada no comunicado emitido pela editora britânica The Bodley Head, propriedade da Penguin Random House.