Dias do cinema português em Berlim vão mostrar mulheres nas suas múltiplas vertentes

"On falling" de Laura Carreira
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Mulheres emigrantes e imigrantes, a ruralidade e o desafio, a dúvida e a luta. As várias dimensões das mulheres vão estar em exibição no festival Dias do Cinema português, em Berlim, que começa esta semana.
O festival Dias do Cinema português, em Berlim, arranca na quinta-feira, 30 de outubro, com a mulher, nas suas múltiplas facetas, em destaque nos 12 filmes, maioritariamente de ficção, ao longo de todo o mês de novembro.
"A imigrante em Portugal (em "Manga d"Terra"), e a portuguesa emigrante no estrangeiro (em "On Falling"); a viajante do "Grand Tour"; a que, em "Légua", permanece num mundo rural e numa mentalidade em vias de extinção; a que hesita entre ficar e partir (no "Hanami"), a que luta pela sua terra e pela defesa da sua cultura (em "A Flor do Buriti"); a que luta pela sua identidade de género e também a que questiona o modo como se equaciona esta questão", descreve Helena Araújo.
A presidente da Associação 2314, que organiza o festival anual, destaca a preponderância absoluta de ficção sobre o documentário nesta edição. "Curiosamente, o único documentário que apresentamos, "Mulheres do Meu País", de Raquel Freire, quase poderia ser visto como uma síntese da edição deste ano. O filme aparece-nos como a resposta deste início do século XXI ao trabalho de Maria Lamas, e apresenta-nos 14 portuguesas muito diferentes e profundamente cativantes na sua maneira de estar na vida", destaca.
Para além destes filmes, também será exibido "Banzo", que está na corrida para os Óscares. Já "O Bêbado" é o primeiro thriller português nesta mostra.
Este ano, a grande novidade será a sessão extra de homenagem a José Cardoso Pires, no seu centenário.
"Exibiremos "Sombras Brancas", o filme que tematiza o AVC que roubou ao escritor o domínio das palavras. Esta sessão terá um importante valor acrescentado: a filha Ana, e a sua companheira de 44 anos de casamento, a Edite Pereira, estarão presentes para conversar com o público berlinense", aponta Helena Araújo em declarações à Lusa.
O maior desafio, confessa a presidente da 2314, que promove a cultura portuguesa na Alemanha, está longe de ser uma queixa: a quantidade de filmes excelentes que tinham para selecionar.
"No ano passado comemorámos o cinquentenário do 25 de Abril com filmes ligados a essa temática, e deixámos todos os outros temas para este ano. Acumulou-se uma grande quantidade de filmes, e foi difícil escolher entre tantos e tão bons. Suspeito que esta dificuldade nos vai acompanhar nos próximos anos, porque aos autores já consagrados está a juntar-se uma nova geração de realizadores muito dinâmicos", sublinha.
O festival volta a realizar-se no cinema Moviemento, o mais antigo da Alemanha. "Ia ser posto na rua devido a negócios de imobiliário em grande escala, e criou uma dinâmica de solidariedade tão grande que conseguiu o capital suficiente para comprar o espaço e deixar de estar à mercê desse tipo de surpresa. Portanto, este não é um cinema como os outros, é um cinema onde apetece ficar para sempre", partilha Helena Araújo.
A organizadora desta mostra de cinema português relembra que ele só é possível graças ao trabalho voluntário de várias pessoas. Trabalhar no reforço da equipa e do financiamento são alguns dos objetivos para o futuro.
"O que eu gostava realmente, era que cada pessoa que lê esta notícia se desse ao trabalho de passar a informação a um familiar, ou a um amigo, ou ao vizinho que tem um filho ou uma prima a viver em Berlim, a ver se conseguimos finalmente chegar a todos os portugueses que aqui vivem", pede.
"Acredito muito na teoria dos seis graus de separação, e tenho a certeza de que um pequeno gesto repetido por muitos pode acabar por chegar a todos os portugueses que vivem em Berlim e a todos os berlinenses que se interessam por cinema português", destaca Helena Araújo, que relembra que depois de cada filme, com legendas em inglês, há espaço para conversa e um brinde com vinho do Porto.
