A francesa que se tornou um ícone de luta feminista global por ter tornado públicas as agressões sexuais reiteradas de que foi vítima e ter enfrentado em tribunal o marido que, durante anos, a drogou para que fosse abusada por ele e por dezenas de homens estranhos recebeu a mais alta condecoração: a Legião de Honra
Corpo do artigo
Aos 72 anos, a francesa Gisèle Pelicot recebe a ordem da Legião de Honra, a mais alta condecoração francesa, como forma de reconhecimento e homenagem pela coragem em ter tornado públicos, em julgamento de portas abertas, crimes de abuso sexual de que foi vítima às mãos do então marido, que a drogava para que fosse violada por ele e por dezenas de outros homens enquanto estava inconsciente.
Ícone feminista, que fez “a vergonha [do abuso sexual] mudar de lado”, recebe agora das mãos do estado francês o reconhecimento, com publicação em Diário Oficial da lista de cavaleiros homenageados, lista onde se inclui também o músico e atual designer de moda e criativo da moda masculina da Louis Vuitton, Pharrell Williams.
Entre as mais de 500 personalidades, célebres e anónimas, condecoradas na véspera do célebre dia nacional francês, o dia da Bastilha, a 14 de julho, estão Yvette Levy, de 99 anos, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, o ex-ministro da Justiça, Eric Dupont-Moretti, os ex-porta-vozes do governo, Stéphane Le Foll e Olivier Véran, e o ex-responsável da Economia, Bruno Le Maire.
Gisèle Pelicot vai publicar um livro com as suas memórias no próximo ano. Um hino à vida será editado em 20 idiomas em janeiro de 2026, pela editora britânica The Bodley Head, propriedade da Penguin Random House. Nela a autora diz querer “transmitir uma mensagem de força e de coragem a todos aqueles que enfrentam desafios difíceis. Que nunca se envergonhem”, referiu a septuagenária, citada em comunicado.
Recorde-se que o então marido de Gisèle e agressor, Dominique Pelicot, foi condenado a 20 anos de prisão por violência sexual cometida sob submissão química da vítima, tendo abusado sexualmente da mulher, e por ter aliciado, via online, dezenas de homens, com idades entre os 27 e os 74 anos, a fazerem-lhe o mesmo quando ela estava inconsciente.
Dos 51 arguidos condenados no âmbito do processo judicial que ficou conhecido como as "violações de Mazan", um deles revelou, no mês passado, que vai apresentar recurso da sentença de prisão.
O jornal francês Libération, citando fonte judicial, explicava à data que, numa fase inicial, 16 condenados avançaram com intenção de recorrer da pena, mas foram, um após o outro, desistindo dessa intenção. Há, contudo, um dos condenados a uma pena de nove anos de prisão decretada em dezembro último que vai prosseguir judicialmente. Husamettin Dogan, de 44 anos, interpôs recurso e deverá comparecer sozinho no Tribunal de Justiça de Gard, no sul de França, entre 6 de outubro e 21 de novembro.