Pele, olhos e gastrointestinal. Alergia aos pólenes pode ter mais efeitos no corpo do que imagina
Vem aí uma semana difícil para quem sofre de alergia aos pólenes. Com altos níveis previstos até 22 de maio, é tempo de ir buscar os lenços para fazer frente a este ‘ataque’ da primavera, que pode ir muito mais além do que apenas os espirros e o pingo no nariz, arriscado ter impacto noutras partes do corpo
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Ter alergia ao pólen é, na grande maioria das vezes, sinal de espirro, pingo no nariz, alguma sensibilidade ocular e uma sensação geral de incómodo.
Contudo, esta alergia respiratória - que ganha reforçada preponderância na primavera - pode, em casos mais avançados, ir mais além do que as manifestações de natureza respiratória. Esta hipersensibilidade "pode afetar outras partes do corpo, como a pele, causando doenças como urticária ou eczema”, esclarece à Delas.pt a imunoalergologista Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC).
Mariana Lobato fala ainda de outras eventuais implicações ao nível oftalmológico, podendo “causar conjuntivite alérgica, com sintomas como hiperemia ocular, comichão e lacrimejo”. Num terceiro nível, a especialista lembra que o sistema gastrointestinal pode também estar mais vulnerável. “Alguns doentes com alergia a pólenes podem ter também reatividade cruzada com alguns alimentos - proteínas similares nos pólenes e nas frutas -, síndrome da alergia oral, como comichão ou inchaço na boca e garganta após comer certos alimentos como, por exemplo, maçã, melancia, etc”.
Aposta na prevenção e o risco da automedicação
Mas há como prevenir? Mariana Lobato vinca, aliás, que o tratamento destas doenças passa muito pela “prevenção, embora muitas vezes seja difícil fazer uma evicção total da exposição a pólens principalmente nesta altura do ano”. Ainda assim, estar informada sobre os “níveis de pólen diários e permanecer no interior de casa ou dos edifícios durante os picos de polinização pode ajudar”. A este cuidado, podem ser adicionados outros como “a lavagem nasal com solução salina e o uso de purificadores de ar”. A presidente da SPAIC enumera ainda “mudanças no estilo de vida, como hidratação adequada, e uma dieta saudável e rica em antioxidantes” porque contribuem para “um melhor funcionamento do sistema imunológico”.
A especialista recomenda que se evite a automedicação e recomenda a procura de ajuda médica em caso de persistência de sintomas para “diagnosticar e orientar a terapêutica adequada”. “Conhecer especificamente ao que somos alérgicos pode ajudar a conseguir evitar a exposição e, em última instância, o levar ao tratamento com imunoterapia específica pode mudar o curso natural da doença, reduzindo a sensibilidade do sistema imunológico aos alergénios e desejavelmente proporcionando alívio permanente dos sintomas”, sublinha a imunoalergologista.
Em Portugal, refere Lobato, "os pólens que mais frequentemente causam alergias, e por isso podemos considerar mais agressivos, são os de gramíneas, de árvores como a oliveira, pinheiro e bétula e de ervas como a parietária".
A imunoalregologista detalha que o que torna os pólenes mais ou menos 'agressivos' são as suas pequenas dimensões e peso, "que facilitam a dispersão pelo ar e suspensão por longos períodos no ar". Para além do maior volume de partículas libertadas nesta altura do ano, a médica acrescenta que, "atualmente, sabemos que a poluição atmosférica torna os pólenes mais agressivos ao alterar as suas estruturas, que ficam mais alergénicas e prolongam a época polínica, agravando as alergias nomeadamente as respiratórias".