
Criação de um canal de denúncia específico para as artes ajudaria a combater assédio, defendem associações MUTIM e Plateia
Foto: Arquivo
Dados preliminares de uma investigação que está a tentar analisar o predomínio do assédio moral e sexual nas artes, em Portugal, indica que na maioria dos casos existia "hierarquia, sendo frequente a presença de pessoas em chefia artística ou pedagógica entre os potenciais agressores".
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Estudo português "online" e de participação voluntária indica que quase metade dos artistas (49,8%) sofreu na pele o assédio sexual em contexto laboral. Destes, mais de sete em cada dez eram mulheres, havendo um predomínio etário entre os 38 e os 49 anos.
A investigação empreendida pelo projeto MUDA - Assédio nas Artes em Portugal, e financiada pela Direção-Geral das Artes, liberta os primeiros resultados de um total de 611 inquéritos recebidos "online", pelo que pede cautelas na análise e transposição de conclusões e aponta para março de 2026 a publicação de um relatório final com mais detalhe qualitativo e quantitativa e enquadramento metodológico completo.
De acordo com estes primeiros resultados, a maioria das vítimas de assédio sexual (70%) nunca apresentou queixa ou pedido de inspeção formais e apresentam três razões predominantes para justificar esta decisão: o receio de consequências na carreira, o desgaste emocional e a ausência de provas ou testemunhas, como indica o comunicado a que a Delas.pt teve acesso.
No que diz respeito ao assédio moral, quase 3/4 dos inquiridos (74,8%) diz ter-se deparado com esta situação, sendo que em 40% dos casos a "agressão" era exercida pela hierarquia e, em igual valor, também não apresentou queixa por medo de consequências.
O projeto MUDA, recorde-se, nasceu para continuar a luta pela igualdade de género no meio artístico, com base nas necessidades identificadas em conversas sobre assédio no setor cultural, organizadas pela PLATEIA (da qual Sara de Castro e Raquel André fazem parte) em colaboração com o sindicato Cena-STE, em 2022 e 2024.
Entre 2018 e 2019, Raquel André e Catarina Vieira reuniram um grupo de mulheres das artes para discutir igualdade de género e precariedade, criando um espaço onde foi possível acolher os primeiros testemunhos sobre experiências de assédio no meio artístico.
Paralelamente, desenvolveram projetos artísticos colaborativos sobre questões de género, nomeadamente sobre a desigualdade e violência de género. O "site" do projeto foi lançado a 28 de abril deste ano.

