Estudo britânico levado a cabo durante três anos conclui que as recém-mães com sinais de depressão pós-parto conseguem debelar melhor a condição se frequentarem aulas de canto com outras mulheres em iguais circunstâncias
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São só boas notícias: as mães melhoram e o serviço nacional de saúde britânico poupa numa altura em que a especialidade de saúde mental está sobrecarregada. Um estudo que acompanhou mães com depressão pós-parto ao longo de três anos identificou melhorias claras no estado de saúde psicológico, bastando, para tal, cantarem.
O projeto Melodias para Mães arrancou em 2017 com aulas gratuitas em Southwark, no sul de Londres, e expandiu-se com fulgor, somando atualmente mais de 400 mulheres por ano em sessões presenciais e online por todo o Reino Unido. "Sabemos que as mulheres que apresentam sintomas de depressão pós-parto podem ter dificuldade em conectar-se com as suas pares", afirma, citada pela estação pública BBC, Yvonne Farquharson. Para a fundadora da Breathe Arts Health Research, entidade que está por trás da iniciativa de canto, revela que é "através dele que as mulheres olham umas para as outras e criam vínculo e conexão social".
Dois anos depois do arranque do projeto, o mesmo foi submetido a estudo com 200 mães com depressão pós-parto e as conclusões foram publicadas no "British Journal of Psychiatry" esta quarta-feira, 15 de outubro (que pode ler no original aqui). Para fazer a investigação, as mulheres foram divididas em dois grupos: as que frequentavam aulas de canto e as que beneficiavam de aulas com apoio comunitário. Todas reportaram melhorias nos sintomas de depressão pós-parto ao fim de dez sessões, mas as que cantavam progrediam ainda mais nos seis meses seguintes à última sessão. Num segundo momento, foram também recolhidas amostras de saliva das participantes para avaliar os níveis de cortisol, a hormona do stresse. Também aqui as mulheres que frequentaram o grupo de canto demonstraram um "declínio constante nos níveis ao longo do período de intervenção", como detalha o professor de psiquiatria biológica no Kings College London, Carmine Pariante.
"Estes dados são realmente importantes porque mostram que a intervenção do canto não é apenas eficaz no tratamento imediato da depressão, mas tem um impacto duradouro", conclui a investigadora associada do Kings College London e uma das principais autoras do estudo, Rebecca Bind.
No que diz respeito às aulas de canto, a referenciação destas recém-mães com sintomas depressivos para participarem nestes grupos tem vindo a ser feito, frequentemente, por parteiras, médicos de família e plataformas e autoridades locais, mas também por comunicação boca-a-boca e redes sociais. Contudo, as candidatas deverão ser primeiro submetidas a um processo de triagem para verificar se poderão beneficiar deste curso ou tratamento com a duração de dez semanas. As músicas escolhidas, a decoração do espaço e até o tamanho do grupo são definidos caso a caso, detalha a BBC.