"Quero acabar com o estigma de que a maternidade é limitante”, diz Miss Universo Portugal
Camila Vitorino é a primeira 'miss' eleita que é casada e mãe. Admite que “não é fácil conciliar as responsabilidades” do novo título “com a educação de um menino de quase dois anos”, mas explica como o faz. Em conversa com a Delas.pt, a Miss Universo Portugal revela expectativas a caminho da Tailândia
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A eleita Miss Universo Portugal e que vai levar o país, à final, na Tailândia, em novembro, não é estreante em matéria de concursos de beleza. Já venceu alguns no passado, mas renunciou aos títulos conquistados por “motivos pessoais e familiares”. Seis anos de afastamento depois, Camila Vitorino regressou às passerelles - agora com um rapaz nos braços a intenção de provar que estas provas são conciliáveis com a maternidade - e conquistou a coroa e “fez história” por ser a primeira miss casada e com filhos.
“Não é fácil conciliar as responsabilidades de ser Miss com a educação de um menino de quase dois anos”, admite a candidata, que acorda agora todos os dias às 5.30 horas da manhã para treinos físicos, culturais e intelectuais enquanto caminha para a final internacional do certame.
Dias depois de ter sido coroada, veja quem é, o que faz e o que pretende conquistar Camila Vitorino, numa entrevista à Delas.pt
Conquista agora um título que já tinha disputado e vencido anteriormente. O que muda agora? Em que é que esta vitória é diferente? Porquê?
Venci o Miss Queen Portugal 2019 e ganhei a qualificação para o Miss Earth 2020. No entanto, por motivos pessoais e familiares renunciei ao título. Voltei porque estou numa boa fase de vida, tanto a nível pessoal, como profissional, e tenho uma rede de apoio excecional. Apesar da vitória anterior ter sido espetacular, ganhar o título Miss Portugal 2025 e, consequentemente, Miss Universo Portugal 2025 teve um significado completamente diferente e especial por ser mãe. Não é fácil conciliar as responsabilidades de ser Miss com a educação de um menino de quase dois anos. Consegui fazer história por ser a primeira mulher casada e mãe a fazê-lo, o que para mim é extremamente significativo.
Participou em alguns concursos de beleza, na adolescência, fez uma pausa para estudar e regressou agora. O que nota que mudou neste universo dos concursos de beleza ao longo destes últimos dez anos?
Acredito que a maior diferença está no impacto que os concursos pretendem ter. Ultrapassam as barreiras da beleza física e mostram a responsabilidade que pretendem transmitir a todas as jovens e mulheres que participam. Viver a experiência de um concurso de beleza é como uma escola: aprendemos como podemos ter uma voz e presença ativa na nossa comunidade, trabalhamos a comunicação, a forma como nos relacionamos com o próximo e como é importante amarmo-nos a nós próprias e sermos sempre autênticas.
E a si, em que medida a pausa lhe foi benéfica ?
Abdicarmos de algo que amamos ensina-nos sempre uma grande lição. A minha foi que precisava de amadurecer muito e descobrir quem eu era e o que me apaixonava. Ao longo destes seis anos afastada pude trabalhar em mim mesma e atingir a minha melhor versão para poder ser uma boa mãe, uma boa mulher, uma boa profissional e uma boa miss. Hoje volto com a certeza que sou capaz de dar 100% de mim para poder fazer história pelo nosso país.
Por outro lado, o que gostava que tivesse mudado nos concursos e ainda não aconteceu?
A única coisa que mudaria nos concursos de beleza seria a questão da inclusividade, que não se aplica ao Miss Universo. Gostaria que mais certames internacionais alargassem as suas regras de participação para incluir mulheres casadas e mães.
Nessa circunstância, vai representar Portugal num certame que só há pouquíssimos anos alargou os critérios de participação a estas mulheres. Como entende esta nova realidade?
Foi uma mudança extremamente positiva com um impacto enorme. Uma mulher que é casada e mãe não deixou de ser mulher, não deixou de ter objetivos nem de ter sonhos. Muitos olham para a maternidade como uma debilidade, eu considero que é um motivo de força porque nós compreendemos o tempo em família de que estamos a abdicar em prol dos nossos sonhos. Eu e o meu marido entendemos que, ao lutar por mim mesma, estou a investir numa relação pessoal que a longo prazo é benéfica no nosso núcleo familiar. Daqui a uns anos poderei dizer ao meu filho, com toda a felicidade do mundo, que a mãe dele nunca desistiu, que fez história pelo nosso país ao ser a primeira mãe Miss de Portugal e que este título abriu portas para que muitas outras mulheres sentissem que podiam conquistar os seus objetivos. Espero poder orgulhar o meu filho, como sei que farei. É transmitindo o meu dia-a-dia em preparação enquanto Miss, conciliando com a vida de mãe e esposa e mostrando que é possível fazermos os dois que pretendo inspirar muitas outras mulheres a fazê-lo também e acabar com o estigma de que a maternidade é limitante.
Sendo uma mulher que é mãe e casada, que mensagem gostava de deixar?
Antes de mais, gostaria de dizer que para mim é uma grande honra ser a primeira mulher a representar todas as mulheres casadas e mães portuguesas. Carregar este título, com tudo o que representa, é uma grande responsabilidade que considero estar à altura. Gostaria de passar uma mensagem de força, porque lutarmos pelos nossos sonhos requer muita coragem e, para sermos corajosas, primeiro precisamos de abraçar a nossa vulnerabilidade. Não tenham medo de sentir-se vulneráveis nem de pedir ajuda. “A união faz a força”. Quando as mulheres se juntam, são imparáveis.
Como se está a preparar para a final, em novembro, na Tailândia?
Estou numa fase de programação de estratégias e desenvolvimento de projetos para garantir que consigo transmitir ao mundo o que o nosso país tem de melhor. Para além disso, irei ter aulas de oratória em português e inglês, aulas de passarela e ainda terapia da fala.
Sigo um plano alimentar em que como sempre os mesmos alimentos em cinco refeições diárias e um plano de treinos aliado ao exercício cardiovascular. Tenho os meus dias sempre muito preenchidos por isso a minha rotina tem de começar muito cedo, por norma às 05:30 horas da manhã. Durante a preparação é fundamental treinar também a oratória e o meu posicionamento em público por isso comecei a ler mais livros, a ver documentários e ainda a ouvir podcasts. Trabalhei imenso em divulgar o meu projeto social que é ser voluntária no CASA – Centro de Apoio ao Sem Abrigo -, em Setúbal para conseguir ter mais doações e voluntários a juntarem-se à causa e ainda a mobilizar as pessoas da minha cidade a apoiarem-me através das minhas redes sociais. Isto é muito importante porque ao ter a faixa “Miss Universo Portugal” ao peito, estou a representar todo o meu país.
Que imagem portuguesa quer deixar espelhada na final, em novembro?
Vou levar comigo para a Tailândia toda a história, cultura, política, gastronomia de um povo tão rico quanto o português. Isto significa que todo o meu posicionamento será assim orientado, tanto nas roupas que levo (exibindo o enorme talento que os nossos estilistas têm), como no traje típico (que já adianto que será espetacular e que explica uma parte importante da nossa história), como no meu projeto social. Quero representar todo o meu país na sua totalidade e, com isso, ter uma presença ativa no desenvolvimento da nossa comunidade
Vai ter possibilidade de levar a sua família consigo à final?
Devido a questões profissionais e de logística (com um filho de dois anos) a minha família não me irá acompanhar à Tailândia. Claro que sentirei saudades, mas não posso nunca sentir-me triste porque sei tenho uma família que me apoia a 100%, que irá gritar tanto por mim que, até da Tailândia, vou sentir esse amor. Claro, quando regressar, abraços e beijinhos não faltarão.