
Investigadores falam em "hipersexualização e objetificação dos corpos das mulheres"
Foto: Arquivo
Em mais de duas mil canções de sucesso produzidas em Espanha entre os anos 60 do século passado e 2022 há marcas de sexismo crescente presente nas letras
Ei que chegam os dias grandes, os arraiais, as festas populares e, claro, as músicas que ficam no ouvido. Se isto é verdade em Portugal, é-o também em Espanha. À boleia ou não da nova temporada de festa que se avizinha, a Universidade catalã Pompeu Fabra (UPF) revelou um estudo segundo o qual concluiu que o sexismo está cada vez mais presente nas letras das canções mais populares e mais bem sucedidas de Espanha, sobretudo na última década.
A investigação implicou, por via da análise computacional e recurso à Inteligência Artificial, a verificação de mais de duas mil canções editadas entre 1960 e 2022 e levou à conclusão que a maioria (51%) tinha referências sexistas nas suas letras.
“Os resultados são chocantes, mostram que, embora tenha havido progressos na igualdade e na luta feminista, as letras de muitas canções continuam a perpetuar estereótipos nocivos”, afirma a coautora do estudo Laura Casanovas. O diretor do grupo Web Science e Social Computing (WSSC) do Departamento de Engenharia da UPF Carlos Castillo vinca, na mesma nota, que o aumento do machismo nas canções nos últimos anos se manifesta sobretudo na “hipersexualização e objetificação dos corpos das mulheres ou com ideias relacionadas à posse e controlo por parte dos homens”.
De entre as razões para este predomínio, a equipa de investigadores aponta causas como “a influência do contexto social e histórico na produção artística, considerando que a música é um reflexo dos valores do quadro cultural em que está inserida”, refere o comunicado, evocando uma “sociedade espanhola ainda não se libertou da herança histórica dos estereótipos tradicionais de género ou do flagelo da violência sexista”.

