O momento é histórico e os meios de comunicação social estrangeiros rendem-se à seleção portuguesa de râguebi, que venceu ontem as Fiji. Mike Tadjer, que encerrou a carreira na seleção nacional, destaca o "dia magnífico". "Podia morrer amanhã", atira. Comitiva chega na terça-feira a Lisboa
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Os lobos (como são conhecidos na gíria) bateram as Fiji, por 24-23, no domingo, em Toulouse, conquistando a primeira vitória da história em Mundiais no jogo de despedida da edição de 2023. A campanha termina na fase de grupos, no entanto, está longe de ser um último ato. Na memória fica a recordação de um registo bonito e único, contudo, para além disso, este é um momento com um simbolismo de afirmação e transição para uma nova era que se almeja prometedora. Exagero patriota? Não será o caso. As reações internacionais destacam o feito e deixam rasgados elogios.
"Os lobos conquistaram corações e mentes ao longo do torneio", destacou o "Guardian", focando num episódio em particular. "A imagem dos jogadores a cantar em plenos pulmões diante dos delirantes adeptos portugueses, logo após o final do jogo, será uma imagem marcante do torneio", realça o órgão de comunicação britânico. Um episódio que, aliás, não passou despercebido aos olhos de ninguém. "O hino entoado em coro pelo público e jogadores logo após o apito final testemunha o carácter histórico do momento", sublinhou o "Le Monde", da França, referindo-se aos lusitanos como "valentes" e movidos pela ânsia de "terminar o torneio em alta".
Na mesma linha, a BBC, sediada em Londres, falou de um desfecho propício e um conjunto de atletas que mostrou um jogo cativante em terras francesas. "Portugal ganhou novos amigos e seguidores com as exibições ofensivas em França, pelo que foi apropriado que terminasse com um momento dramático no final do jogo, que completou uma enorme reviravolta contra as Fiji", pode ler-se. O "L' Equipe" evidenciou a exibição dos lobos. "Portugal ofereceu ao público de Toulouse um grande espetáculo no ataque e na defesa para o jogo de encerramento da fase de grupos deste Mundial", referiu o jornal desportivo francês.
José Lima, capitão da seleção portuguesa, enfatizou o dia histórico para a modalidade. "É uma grande emoção. Estar em Toulouse e ver esta gente toda a apoiar-nos dá arrepios e marca. Hoje foi um grande dia para o râguebi português. Somos os primeiros a entrar na história, e isso é bonito: ser o primeiro a fazer alguma coisa".
Despedidas em alta
Deste conjunto, dois deles realizaram frente à seleção do Pacífico o último encontro de quinas ao peito: Francisco Fernandes e Mike Tadjar. Este último, fortemente emocionado, foi bastante expressivo nas declarações. "Obviamente, podia morrer amanhã. Será um dia magnífico para mim. Retiro-me depois deste Mundial e terminar assim é algo incrível. Não tenho palavras, estou tão feliz, é provavelmente o melhor dia da minha vida", apontou.
José Madeira aproveitou o momento para deixar um apelo ao povo português. "O que peço aos adeptos de desporto em Portugal é que olhem um bocado mais para as outras modalidades e não apenas para a bola redonda. Todas as outras modalidades merecem o apoio. O que fizemos foi de louvar e espero que ajude a divulgar mais o desporto em Portugal”, apelou.
O feito não passou despercebido aos responsáveis do país e António Costa deixou uma mensagem nas redes sociais. "A notável vitória de hoje culmina o extraordinário campeonato que a seleção nacional de râguebi disputou com alegria, determinação e ambição. Vivam os lobos!", referiu o primeiro-ministro.
Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa, também ele, reagiu ao resultado "histórico" ante um oponente de tradição na modalidade. "Achei um jogo, à sua maneira, histórico. [Portugal] é uma equipa sobretudo de amadores, com alguns profissionais luso-franceses. Jogaram contra uma das cinco melhores profissionais do mundo. Entrou em campo de igual para igual, a lutar pelo resultado e ganhou", abordou o presidente da República, em declarações à comunicação social em Saint-Étienne.
Os lobos regressam a casa, na terça-feira, às 19.40 horas, num voo que irá aterrar no aeroporto de Lisboa.