O espanhol David Blanco está a dois dias de cumprir o sonho de vencer a Volta a Portugal por cinco vezes, depois desta sexta-feira se ter tornado no primeiro ciclista a vencer por três vezes a etapa da Torre.
Corpo do artigo
De amarelo vestido, graças às bonificações, o quádruplo vencedor da Volta, um recorde que partilha com o antigo ciclista português Marco Chagas, prefere ser cauteloso, garantindo que só alcançará o sonho de conquistar a quinta vitória na prova rainha do ciclismo português "quando chegar a Lisboa".
Autor de um ataque, ou melhor "quatro ou cinco", demolidor nos 28,4 quilómetros da mítica subida, com cinco por cento de pendente média, que começam em Seia e terminam no alto da Torre, Blanco deu tudo o que tinha para destronar Hugo Sabido, o anterior líder, que foi apenas décimo, mas que "agora sim" se sente candidato, porque "oito segundos (de atraso) não são nada".
Aos 37 anos, o líder da Efapel-Glassdrive foi o autor do xeque-mate de uma estratégia perfeita da equipa de Carlos Pereira, que colocou quatro ciclistas nos sete primeiros, viu Rui Sousa assegurar definitivamente a camisola da montanha e Sérgio Ribeiro vestir a camisola da regularidade.
Em dia de Serra da Estrela, não há tempo a perder, porque o tempo de antena dos fugitivos acaba mal se começa a subir. Por isso, aos 17 quilómetros da etapa que partiu da Guarda e teve 154,9 quilómetros, já um grupo de 22 homens tentava fugir, com resposta imediata do próprio camisola amarela.
Tentativa anulada por pouco tempo, já que depressa se formou um numeroso grupo, que chegou a ter 26 elementos, mas foi perdendo peças nos sobes e desces, que incluíram passagens pela contagem de primeira categoria nas Penhas da Saúde e pela de segunda nas Penhas Douradas.
Dos fugitivos à entrada da última subida, em Seia, restavam Alexandro Marque e Amaro Antunes (Carmim-Prio), Sérgio Sousa e Filipe Cardoso (Efapel-Glassdrive), José Gonçalves e Delio Fernandez (Onda), António Carvalho e Rafael Silva (Seleção Portuguesa), Joni Brandão (Burgos BH-Castilla e Leon), Juan Pablo Suarez e Duber Armando Quintero (Colombia-Coldeportes), Maxime Mederel (Saur Sojasun), Mikhail Antonov (Lokosphinx) e o irrequieto Jason Bakke.
O homem da Team Bonitas, que caiu na descida para Gouveia com Sérgio Sousa, esqueceu os arranhões e abandonou os companheiros de jornada, conquistando uma vantagem confortável para os outros fugitivos e ainda mais (superior a cinco minutos) para o pelotão.
Seria apenas uma situação de transição até à verdadeira corrida começar, com um impulso de Nelson Vitorino (Carmim-Prio), o primeiro dos favoritos a agitar as águas. Seguiram-se tentativas, várias, de Rui Sousa, mas foi David Blanco quem conseguiu sair como um tiro e deixar Hugo Sabido para trás.
Sem "o braço direito" Edgar Pinto, que hoje foi operado à fratura na clavícula direita que herdou da queda na etapa de quinta-feira, o camisola amarela teve a ajuda de Vergílio Santos, o ciclista com mais Voltas nas pernas, na perseguição ao galego.
Mas o ciclista da Efapel-Glassdrive tem um sonho -- ganhar pela quinta vez a Volta a Portugal - e não está disposto a abdicar dele sem dar tudo o que tem. A oito quilómetros da meta, apanhou Bakke, e na companhia de Rui Sousa, galgou os metros que o separavam do ponto mais alto de Portugal continental e destroçou os segundos que o separavam da amarela de Sabido.
Para trás ficou o vencedor na Torre em 2008 e o sonho do veterano de Barroselas de ser o primeiro ciclista português a conquistar o duo Graça-Torre e o colombiano Darwin Atapuma, para a frente foi Blanco, indiferente ao nevoeiro cerrado e ao frio intenso que se sentia. Nada nem ninguém conseguiu parar o dorsal 11 que, depois de cortar a meta com o tempo de 04.37.43 horas, menos 49 segundos do que Sabido, viu as bonificações concedidas ao primeiro darem-lhe a amarela.
"Tinha de tentar de todas as maneiras, porque 51 segundos era muito tempo para recuperar num contrarrelógio com as características do de amanhã (sábado). Como já subi à Torre muitas vezes sabia que conseguia fazer uma diferença maior nos últimos dois quilómetros. E aí, fui 'a muerte'", descreveu o vencedor da Volta em 2006, 2008, 2009 e 2010 e o ganhador na Torre em 2009 (por desclassificação de Nuno Ribeiro) e 2010.
"A muerte" também irá no contrarrelógio que este sábado liga Pedrógão a Leiria, na distância de 32,6 quilómetros, o derradeiro teste à sua liderança.
"Oito segundos é pouco tempo, mas é melhor assim do que estar com mais 51 segundos", assumiu, esperando apenas que, na luta entre ele e Sabido, "ganhe o melhor".