O avançado recebeu o JN de sorriso rasgado e com grande simpatia. Ao primeiro contacto mostra que escapou às trevas impostas pela lesão que lhe continua a tirar o palco.
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É, por agora, um matador sem poder de tiro, mas aceita a condição e ganha competências para "voltar mais forte". No desenrolar da conversa revela-se agradecido: a Pinto da Costa, Sérgio Conceição, aos colegas de equipa... a toda a família do F. C. Porto. Pelo apoio que lhe dão e por manterem os sonhos dos títulos vivos. E retribui com largas doses de confiança, vincadas com a chegada de Pepe. Até quis posar ao lado da fotografia do novo colega. E voltou a sorrir. Para a 19.a vitória consecutiva. Em Alvalade.
Como é o dia a dia nesta fase em que recupera de lesão?
Antes de mais, tenho o dever de agradecer a todo o clube: ao presidente, treinador e colegas de equipa, sem esquecer o departamento médico, porque quando tive esse momento de angústia precisei de ajuda e tive o apoio de todos. A energia coletiva que recebi permitiu que eu recuperasse melhor.
Quando percebeu que iria ficar seis meses sem jogar, como reagiu?
Aceitei... O mais complicado para um futebolista é gerir os momentos difíceis e encontro-me num momento algo difícil, porque estou lesionado e vejo os meus colegas a jogar e tudo mais... Não é fácil, mas às vezes é necessário estar por cima da lesão, por cima do mal. Consegui dar a volta e agora sinto-me bem. Há jogadores que passam meses ou anos sem jogar, mas a vida continua. Eu fiquei com força interior suficiente para voltar ainda mais forte.
A visita dos colegas e treinadores ao hospital, depois da operação, foi importante para si?
Muito importante. Quando jogamos futebol damos alegrias aos adeptos, à nossa família, mas nem sempre pensamos que somos importantes. O facto de terem ido visitar-me deu-me a sensação de que sou um pouco importante. Deram-me uma energia incrível, senti que não estava sozinho. Quero agradecer infinitamente a todos. Não vou parar de o fazer.
Sérgio Conceição contou que foi visitá-lo já depois da meia-noite e que até o assustou. Recorda-se desse episódio?
Sim, veio muito tarde, falou muito comigo, aconselhou-me. É mesmo boa pessoa, no plano desportivo também. Há pessoas no futebol que são incríveis, mas como seres humanos não são tão boas. Ele é incrível em todos os aspetos e não estou aqui a dar graxa.
O treinador fala sempre de Aboubakar com carinho. Como recebe essas palavras?
Isso tem a ver com a forma como me comporto com todos. Sou um jogador à Porto. Tenho de dar o máximo pela equipa e dar alegria aos adeptos.
De que forma apoia os colegas nesta fase em que está parado?
Estou 100 por cento com eles. Mesmo que não esteja a jogar, o mais importante é que possamos voltar a ganhar o campeonato e outros troféus. Todos os jogadores que entram num clube têm de deixar uma marca e nós estamos a deixar a nossa ganhando títulos, jogos e quebrando recordes. O que eles estão a fazer é algo incrível.
O facto de a equipa estar a ganhar retira-lhe pressão na recuperação da lesão?
Eu não tenho pressão nenhuma. No futebol é preciso saber superar algumas coisas. Há aqueles que criticam quando estamos num momento difícil, mas quando fazemos bem é necessário dar valor. Aquilo que eles estão a fazer é bom, mas é necessário que continuem. Temos de ser campeões.
Acredita que a equipa pode chegar ao recorde nacional de 19 vitórias consecutivas?
Podem alcançar essa marca caso continuem a jogar como até aqui.
Para isso é preciso vencer em Alvalade. Que mensagem deixa à equipa para esse clássico?
Que continuem humildes, a respeitar os adversários. Têm de continuar a trabalhar em equipa, é assim que vão conseguir marcar golos. Têm de lutar e dar tudo pelo colega do lado para que estejamos felizes quando o jogo terminar. Penso que, com a nossa força coletiva, os meus colegas vão dar tudo para alcançar um bom resultado e creio que vão conseguir vencer.
E quem marca os golos?
Isso é o menos importante, a vitória é o que realmente interessa.
Que desejos tem para 2019?
O meu sonho é que o F. C. Porto seja novamente campeão. É o sonho mais profundo, porque quando fomos campeões no ano passado, vi a emoção dos adeptos. Era imensa. Quando vives uma coisa assim, e depois paras de jogar, são esses momentos que guardas na memória. Os momentos mais intensos da minha carreira estou a vivê-los aqui, no F. C. Porto. Por isso, tenho de agradecer ao presidente, treinador, médicos...
"Roma? A chegada de Pepe dá outra dimensão à equipa"
Ainda vamos ver golos do Aboubakar esta época, com a camisola do F. C. Porto?
Não posso dizer isso. Primeiro tenho de recuperar bem, mas admito que estou em boas mãos, o departamento médico cuida muito bem de mim. Isto sem esquecer o preparador físico, Telmo [Sousa]. Estou a recuperar bem, mas não posso estar com pressa para voltar. Isto tem de ser de forma progressiva. Por isso não digo que ainda vou marcar golos. Primeiro preciso recuperar bem para depois poder projetar o futuro.
O ataque ficou bem entregue a Soares e Marega?
Claro que sim. Está tudo a correr bem. Estamos a ganhar e eles a marcar golos.
Fala com eles antes dos jogos?
Não, eles estão concentrados.
O F. C. Porto também tem armas na defesa. Como é treinar contra Felipe e Militão?
Eles completam-se, são dois bons defesas.
E como foi o primeiro contacto com o recém-chegado Pepe?
Estou muito contente, emocionado até. Quando um jogador tem uma carreira incrível como a dele, ou como a do Iker [Casillas], é preciso respeitar. Não é qualquer jogador que consegue ganhar o campeonato, ganhar com o Real Madrid, conquistar a Liga dos Campeões e outros grandes troféus. Eles fizeram-no e merecem um grande respeito. O Pepe traz muita experiência à equipa com toda as qualidades que tem e, do ponto de vista humano, estamos a falar de alguém muito bom. Ele chegou agora e o efeito já se faz sentir. Vai ajudar-nos a subir ainda mais alto.
Até nos "oitavos" da Champions. Como perspetiva essa eliminatória com a Roma?
No futebol não podemos dizer que esta ou aquela equipa vai ganhar, mas a chegada do Pepe é um grande trunfo. Espero que os meus colegas acreditem nisso. A chegada de Pepe dá outra dimensão à equipa. Se aceitarem que somos fortes, o resto vai fluir. A energia vai fluir. Eu acho que a Roma vai ter dificuldades. Se os jogadores acreditarem nisso, podemos passar. É o meu sonho.
No final da temporada há mais uma edição da CAN. Teremos Aboubakar a defender a seleção dos Camarões?
Primeiro tenho de recuperar da minha lesão, depois não sei se será possível eu estar presente na CAN. Tenho é de recuperar. Não sei como será o meu futuro, mas primeiro tenho de recuperar da lesão, é o mais importante.
Com ou sem Aboubakar, é possível que a seleção dos Camarões volte a ser campeã de África na próxima edição da prova?
Vai ser complicado, mas no futebol há sempre surpresas. Quando és o campeão, a equipa adversária dá tudo para te derrotar. Eles vão dobrar os esforços, o que significa que nós também vamos ter de dar ainda mais para alcançarmos algo. Temos de trabalhar muito o plano mental. Não podemos chegar à CAN a pensar que somos campeões de África, temos de chegar lá a pensar que ainda não ganhámos nada e que queremos ganhar. A partir desse estado de espírito muita coisa pode mudar.
O selecionador Clarence Seedorf já falou consigo depois de ter sofrido a lesão que o tem tirado dos relvados?
Quando me lesionei, ele ligou-me, falamos muito, também me deu apoio e agradeço-lhe por isso. A ele e ao doutor [José Carlos] Noronha, o médico que me operou. São duas pessoas que também merecem os meus agradecimentos.