Acionista do Vitória acusa ex-dirigentes de compra fictícia para ganhar milhões
Mário Ferreira contesta ação judicial e recusa pagar recompensa e mais-valias. Diz que compra de ações foi "encenação" e "má-fé".
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O empresário Mário Ferreira, acionista maioritário da SAD do Vitória de Guimarães, acusou os ex-dirigentes Júlio Mendes e Armando Marques de encenarem uma proposta de compra de ações da SAD para tirarem dividendos pessoais. As acusações fazem parte da contestação de Mário Ferreira ao processo cível que lhe foi movido pelos ex-dirigentes, no qual exigem 2,7 milhões de euros, devidos pelo seu papel crucial na valorização das ações.
O pedido de 2,7 milhões resulta de um acordo assinado em dezembro de 2016, segundo o qual Mário Ferreira teria de recompensar Mendes e Marques caso vendesse as ações acima do preço por que as comprara (cerca de 2,6 milhões de euros). No compromisso, Ferreira era ainda obrigado a aceitar qualquer proposta de compra acima dos oito milhões de euros.
A 30 de abril de 2019, um mês antes da direção de Júlio Mendes se demitir, a empresa Leader Constellation ofereceu 8,1 milhões pelas ações de Mário Ferreira. A proposta tinha como condição a alteração dos estatutos da SAD, suprimindo o poder de veto do clube na eleição de administradores e reforçando o domínio do titular da maioria das ações. Por vários motivos, entre os quais este, Ferreira rejeitou a proposta.
Quebra de acordo
Júlio Mendes e Armando Marques consideraram ter havido uma quebra do acordo, pois Mário Ferreira estava obrigado a vender as ações - a proposta ultrapassava os oito milhões de euros - e, consequentemente, estava também obrigado a distribuir as mais-valias da venda, no valor de cerca de um milhão de euros para cada um, mais 700 mil euros como prémio de desempenho para Mendes, num total de 2,7 milhões. E foram para tribunal.
É em resposta a esta ação judicial que Mário Ferreira acusa os ex-administradores do clube de terem planeado a "encenação de apresentação de uma proposta" cujo único objetivo era obrigá-lo a quebrar o acordo e "desencadear as regalias devidas aos autores".
Mário Ferreira refere que a proposta da Leader Constellation "não era firme nem séria" pois "foi arquitetada e apresentada em colaboração" com os ex-dirigentes, uma vez que a empresa "era (e é) controlada por um círculo de pessoas próximas aos autores e com relações estreitas com estes" (ver texto ao lado). O acionista afirma que a intervenção de Mendes e Marques "está claramente eivada de má-fé" e tem a "intenção direta de prejudicar a Vitória SAD e, sobretudo, o Vitória Sport Clube".
Ao JN, Júlio Mendes disse que confia na justiça: "A ação foi interposta por mim contra o Mário Ferreira e confio no julgamento nas instâncias próprias. Tudo o resto é lixo para prejudicar a minha reputação". Mário Ferreira, Deco e a administração da Leader Constellation não responderam ao contacto do JN.
Sócio de Deco é da Leader Constelation
A Leader Constellation é detida por Rodrigo Stempniewski e Daniel Almeida e tem sede em Leça da Palmeira. No mesmo edifício, funciona a D20 Sports, do ex-jogador Deco, agora empresário de futebol. Para além disso, Daniel Almeida e Deco são sócios da agência de marketing Arpoador Sports, no Brasil. Segundo Mário Ferreira, Deco tem "relações comerciais estreitas com a Vitória SAD, iniciadas no tempo do autor Júlio Mendes". Deco agenciou para o Vitória os jogadores Raphinha, Pedro Henrique, Falaye Sacko, Edmond Tapsoba e Tiquinho Soares.
Taça no currículo
Ao longo dos sete anos em que Júlio Mendes liderou o clube, o Vitória conquistou uma Taça de Portugal, quatro qualificações europeias e recuperou da difícil situação financeira em que se encontrava em abril de 2012.
Ações vendidas
Até março de 2022, o Vitória vai comprar a totalidade das ações de Mário Ferreira por 6,5 milhões. O acordo, já assinado pela atual direção, de Miguel Pinto Lisboa, faz com que o clube passe a deter 96,4% da SAD.
Luís Teixeira
Para além de Mendes e Marques, era beneficiário dos dividendos o empresário Luís Teixeira, sócio de Mário Ferreira e nomeado por este para a administração da SAD.