Há 20 anos, o Brasil foi a última seleção sul-americana a ganhar o título. As diferenças entre os dois continentes.
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A final do Mundial de amanhã, que opõe a Argentina à França, será a terceira neste século entre seleções sul-americanas e europeias. Há 20 anos, quando o Brasil derrotou a Alemanha (2-0), com golos de Ronaldo, mais nenhum representante da América do Sul conquistou o Campeonato do Mundo, mesmo que a Argentina tenha tentado inverter o rumo caiu aos pés da seleção alemã (1-0) em 2014.
Vários fatores podem ajudar a explicar as razões que têm levado a este hiato e José Peseiro, selecionador da Nigéria, aponta a evolução do futebol. "Na Europa deixamos de ter só a Alemanha e a Itália com potencial para chegar a uma final e vencer. Nas últimas décadas surgiram Espanha, bicampeã da Europa e campeã do Mundo, e a França bicampeã do Mundo e campeã da Europa. Ou seja, abriu-se mais o leque de seleções com potencial para ganhar um Mundial, às quais ainda podemos juntar Países Baixos, Croácia e Portugal", explicou, ao JN, o treinador. "Na América do Sul, só Argentina e Brasil estão ao mesmo nível, mais nenhuma seleção se lhes juntou", apontou ainda.
A verdade é que o raciocínio de José Peseiro fará sentido, uma vez que se a Alemanha acabou eliminada na fase de grupos, a seleção de Itália nem se apurou para esta edição e não foi por isso que deixou de estar uma seleção europeia na final. "A Europa é um continente com seleções que têm uma preparação melhor no que diz respeito à organização, agenda, clima, alimentação e biotipo corporal. Depois, há algum tempo que trabalham muito bem nas categorias inferiores. Temos visto jogos de sub-20 e sub-18 de alto nível. Esses jovens chegam depois com facilidade às seleções principais", complementou Abel Braga, treinador brasileiro e coordenador do Vasco da Gama, que passou pelo futebol português na década de 1990.
Embora Peseiro acrescente que, "muitas vezes, ganha quem está num melhor momento e não necessariamente a melhor seleção, e houve vários exemplos disso neste Mundial", a verdade é que Paulo Autuori, atualmente no Atlético Nacional, da Colômbia, e que treinou em Portugal entre os anos 1980 e 1990, acrescenta-lhe outra abordagem: "Podemos ter jogadores sul-americanos em ligas competitivas, como as europeias, mas a partir do momento em que se juntam os jogadores numa seleção, tudo depende das ideias do treinador e pode não se plasmar em campo tudo o que é necessário para se ter sucesso".
A estes fatores, José Peseiro acrescenta mais alguns: "Tivemos seleções assentes em gerações muito fortes, como a Espanha com o Barcelona, ou a Alemanha com o Bayern Munique, e não só". A França atravessa um desses momentos, com uma geração muito alargada de jogadores de qualidade. "Na Europa, nos dois últimos mundiais vimos a França ter recursos de qualidade em 2018 e agora em 2022, com jogadores diferentes, mesmo perdendo alguns atletas importantes em cima do início deste Mundial, e sempre conseguindo resultados interessantes. Com os brasileiros, mesmo jogando na Europa, não quer dizer que se consiga ter um coletivo que lhes permita estarem todos nos momentos decisivos", sublinhou ainda Paulo Autuori.