Armstrong: O mito do sobrevivente de cancro foi substituído pelo de fraude desportiva
Lance Armstrong deu o último passo para a destruição do mito ao confirmar o envolvimento no "programa de dopagem mais sofisticado da história do desporto", revelado pela investigação da Agência Antidopagem dos Estados Unidos no verão passado.
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Lance Armstrong despediu-se definitivamente do pelotão internacional em janeiro de 2011, no Tour Down Under, depois de um regresso "sem brilho", no qual ficou bem longe dos anos de ouro, marcados por um recorde -- agora apagado - de sete vitórias consecutivas no Tour, entre 1999 e 2005.
Estas conquistas inéditas, depois de ter sobrevivido a um cancro nos testículos, que lhe foi diagnosticado em 1996, elevaram o texano, agora com 41 anos, ao patamar dos heróis do desporto.
Armstrong, que já tinha sido campeão norte-americano de triatlo, estreou-se como ciclista profissional em 1992, com a camisola da Motorola. Um ano depois foi campeão do Mundo de estrada.
Em 1996, a carreira que continuava em ascensão foi travada por um cancro. Armstrong submeteu-se a várias operações e tratamentos de quimioterapia e ainda arranjou forças para criar a uma fundação com o seu nome, que trabalha na ajuda a vítimas da doença.
Em 1998, já com a US Postal, regressou à estrada, com um surpreendente quarto lugar na Volta a Espanha e um ano depois conseguiu o seu primeiro triunfo na Volta à França. A chegada triunfal aos Campos Elíseos repetiu-se até 2005, tornando-o recordista de vitórias no Tour.
Quando partiu para o Tour de 2005 já tinha anunciado que arrumaria a bicicleta no final da prova e fê-lo. Três anos mais tarde, aos 37 anos, voltou ao pelotão internacional na equipa da Astana.
Sem o fulgor dos anos de ouro, participou pela primeira vez no Giro de Itália, e regressou à "Grande Boucle", onde foi terceiro classificado.
As divisões na equipa cazaque, onde despontava o próximo grande campeão, o espanhol Alberto Contador, levaram-no a sair e a fundar uma equipa, a RadioShack, com o belga Johan Bruyneel, seu mentor e diretor desportivo desde 1999, e vários antigos companheiros da Astana, incluindo o português Sérgio Paulinho.
As primeiras suspeitas de doping surgiram em 2005, com o jornal francês L'Equipe a acusá-lo de utilização de eritropoietina (EPO), facto que nunca foi confirmado por positivos, mas que lançou a polémica no pelotão internacional.
Em 2010 foi alvo de uma investigação federal nos Estados Unidos, na sequência de um inquérito aberto após as denúncias de Floyd Landis, vencedor do Tour de 2006, deposto após controlo positivo, e antigo companheiro de equipa de Armstrong, entre 2001 e 2004.
Pouco depois, a revista Sports Illustrated (SI) publicou novas acusações contra o texano, reportando-se à década de 1990, quando este corria na Motorola. Mais uma vez, um antigo companheiro de equipa, o neozelandês Stephen Swart, acusou-o de dopagem e de ser "o instigador" do uso sistemático de EPO.
A todas as acusações, Lance Armstrong respondeu, como sempre, sem nada a acrescentar, desvalorizando as insinuações e acusando de falta de credibilidade quem as proferia.
Mas, em agosto de 2012, Armstrong foi formalmente acusado pela Agência Antidopagem dos Estados Unidos (USADA) de uso de doping durante a sua carreira.
O antigo ciclista tentou, sem sucesso, travar o processo, considerando que a USADA não tinha competência para abrir processo disciplinar e pediu um julgamento na justiça, alegando que os seus direitos constitucionais foram violados.
Hoje, este pai de cinco filhos que fora da estrada se tornou famoso pela sua garra na luta contra o cancro e também por ter tido mantido um relacionamento com a cantora Sheryl Crow, confirmou o que era um segredo a vozes: que o sucesso foi conseguido com a ajuda "batoteira" do doping.