Treinador português renova a imagem no regresso à luta pelo título inglês. Spurs lideram o campeonato e já se apuraram para os 16 avos de final da Liga Europa. E tudo porque o Special One está diferente.
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Entre a saída do Manchester United, em dezembro de 2018, e a entrada no Tottenham, em novembro de 2019, José Mourinho cumpriu o maior hiato competitivo dos 20 anos de carreira de treinador principal. Mas conquistou muita coisa nesses onze meses de intervalo. Analisou, percebeu os erros que cometeu , fortaleceu-se emocionalmente, reinventou-se... Em suma, preparou da melhor forma a rentrée, que aconteceu pela porta dos spurs. E, um ano volvido, os resultados estão à vista: liderança da Premier League, a par do Liverpool, passaporte carimbado para os 16 avos de final da Liga Europa, uma imagem mais cativante para o exterior, embora oriunda do mesmo ADN, e a criação de elevadas expectativas para o futuro próximo.
"Mourinho regressou ao futuro", garante, ao JN, o jornalista desportivo inglês, Matt Scott, como quem diz que o treinador português volta a estar, aos 57 anos, um passo à frente dos outros, como quando conquistou o Mundo com o F. C. Porto e o Inter, ou Inglaterra com o Chelsea e ainda quando rivalizou com o super Barcelona de Guardiola. Mas, para ligar-se ao futuro, Mourinho entendeu que devia desligar-se de algumas coisas do passado e, por outro lado, abraçou o reencontro de zonas de conforto.
A opção pelo Tottenham não foi como aceitar a última coca-cola no deserto. Nada disso. Mourinho escolheu um clube com sede de títulos, que está há mais de uma década sem ganhar qualquer troféu. Viu também um grupo com qualidade, vice-campeão europeu, que tinha fome de grandes conquistas e que, quase por capricho, encaixava na tática que mais gosta de utilizar. Viu os condimentos ideais para confecionar mais uma receita de sucesso, além de poder voltar ao abrigo familiar e avançou. "Em Manchester, a morar num hotel, Mourinho certamente não estava feliz. Agora, recuperou a energia em Londres", analisa Matt Scott.
Mourinho formou uma nova equipa técnica, também ela a sonhar com voos mais altos e voltou a impressionar, até pela renovada imagem que passa para o exterior, mais madura e menos conflituosa. Para isso muito ajudou o documentário da Amazon, gravado na época passada, e que o mostra os bastidores do Tottenham. "A série é um sucesso. Mostra que Mourinho é positivo e deixou-o novamente no centro das atenções. É um superstar. No United, ele tornou-se um personagem sinistro", conclui Matt Scott.
Plantel sedento de títulos
José Mourinho recebeu o plantel de Pochettino, que elogiou desde o início, e deu-lhe alguns retoques em janeiro, mas só esta época o colocou à sua imagem. Exceção feita a Gareth Bale, reforço para 2020/21, todos os outros têm currículos pouco preenchidos por títulos, como Harry Kane (foto), conforme o treinador gosta, pois assim desperta-lhes o desejo por conquistas e isso pode conduzi-los a grandes performances.
Nova equipa técnica
No Tottenham, Mourinho revolucionou a equipa técnica. Rui Faria já tinha ficado pelo caminho ainda no decorrer da passagem pelos reds, sendo que, pela primeira vez desde que saiu do F. C. Porto, Silvino Louro ficou de fora da estrutura técnica. Também o observador Ricardo Formosinho deixou de colaborar com o treinador. Nos spurs, recrutou ao Lille o adjunto João Sacramento (foto) e Nuno Santos, técnico de guarda-redes.
Comunicação aberta
Em Manchester, Mourinho travou verdadeiras guerras verbais nas conferências de Imprensa, algo que não tem acontecido nesta passagem pelo Tottenham. A comunicação do técnico é feita, agora, de forma mais pacífica e aberta. A forma como se mostrou na série "All or nothing", sobre os bastidores do Tottenham, ainda lhe rende muitos elogios, bem como a utilização que dá à rede social Instagram.
Peças para o sistema
Ao contrário do que aconteceu, por exemplo, no United, José Mourinho tem no Tottenham jogadores para o 4x3x3 ou para o 4x2x3x1 que tanto gosta de utilizar e que já lhe rendeu muito sucesso. No ataque, há a expectativa de que venha a transformar o tridente Son/Kane/Bale (foto) tão explosivo como o que formou no Chelsea com Robben/Drogba/Duff. No entanto, o galês ainda não está nas melhores condições.
Frases marcantes
"Não seria nenhuma surpresa se ainda tiver 10 ou 15 anos de carreira pela frente"
"O Tottenham não está, sequer, na corrida pelo título, por isso não somos um cavalo. Somos um pónei"
"Já sabia que a fase de grupos da Liga Europa não motiva alguns jogadores [do Tottenham]"
"Quero sempre mais, mas se não nos divertirmos e tivermos prazer, não conseguimos chegar à dimensão em que fazemos a diferença"