"Culés" procuram esta tarde, em Alvalade, a quarta Champions em cinco anos, após uma década de transformação total.
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Entre 2006 e 2025, apenas por uma ocasião é que o Lyon não foi campeão francês. Nesses quase 20 anos também construiu uma bruta hegemonia na Europa, tendo conquistado oito edições da Liga dos Campeões feminina entre 2011 e 2022. Parecia imparável, até que surgiu o Barcelona. Esta tarde, em Alvalade (17 horas) e sem a portuguesa Kika Nazareth (lesionada), as “culés” têm que derrotar o Arsenal para conquistarem o quarto título europeu em cinco anos e consolidarem-se como a principal potência da modalidade, a que junta o estatuto de maior impulsionador do futebol feminino nos últimos anos. Se há algum clube capaz de replicar ou superar o domínio do Lyon, esse é o Barcelona, mas todo este sucesso não é por acaso e só acontece porque inicialmente houve capacidade para superar derrotas dolorosas.
Em 2007, o Barcelona femení, como é conhecido, disputava a 2.ª Divisão espanhola e anos antes viu a inscrição rejeitada devido a maus resultados. Nas épocas seguintes, sobreviveu como pôde, uma realidade inerente a todo o futebol feminino. Como tantas outras equipas femininas – a maioria –, também lhe faltavam treinadores, preparadores físicos, treinadores de guarda-redes, fisioterapeutas, enfim o mais básico. O ponto de viragem deu-se em 2015, altura em que se tornou profissional. À boleia desse investimento vieram outros, como criação de equipas de formação (as sub-10, sub-12 e sub-14 competem contra equipas masculinas), construção de infraestruturas, captação mais alargada de jovens jogadoras. Ao mesmo tempo, ganhava força a convicção de ser possível tornar a equipa feminina do Barcelona autossustentável, capaz de gerar receitas e governar-se à margem da equipa masculina: dito e feito.
Atualmente, o Barcelona femení gera receitas anuais em torno dos 10 milhões de euros apenas em patrocínios e em 2023, segundo o New York Times, as vendas online de material da equipa aumentaram quase 275%. Sempre que joga em casa, o Estádio Johan Cruyff enche. Pelas ruas da cidade e na Catalunha, multiplicam-se imagens das estrelas Aitana Bonmatí e Alexia Putellas.
Entre 2015 e 2019, o Barça não venceu o título espanhol, mas tanto investimento haveria de ser recompensado. Agora, domina em Espanha e na Europa, servindo ainda de exemplo e de inspiração para outros projetos de emancipação feminina.