Barroso jogou 11 anos no Braga e dois no F. C. Porto numa carreira única, dos distritais à seleção portuguesa.
Corpo do artigo
Trinta e quatro. Barroso é o melhor marcador de livres diretos nos últimos 25 anos da 1.ª Divisão, com 34 golos. Há-os para todos os gostos: em força, como aquele frente ao Sporting no José Alvalade em 1995, em jeito, como aquele com o F. C. Porto no 1.º de Maio em 1995, e ainda os decisivos, como aquele diante do V. Setúbal no Bonfim em 2003. Como se isso fosse pouco, Barroso joga 11 épocas no Braga e mais duas no F. C. Porto. Faz dele o convidado ideal para a nossa tertúlia sobre a final da Taça de Portugal. Ao telefone, Barroso é expansivo, fala pelos cotovelos e dribla-nos constantemente. É ouvir e sorrir.
Estava no José Alvalade quando o Barroso mandou aquela "bomboca" ao ângulo superior do Costinha. "C'a estouro, jasus".
Ah! ah! ah! Foi eleito o golo da jornada e até fui ao "Domingo Desportivo". Sabes o que aconteceu nessa tarde, antes do jogo?
Nem ideia.
Estávamos no aquecimento e chamaram-me para ir ter com o presidente do Braga. Lá fui, meio contrariado. Quer dizer, interromperam-me o trabalho com os meus companheiros. Quando cheguei, grande aparato porque o Sousa Cintra estava interessado em mim e aquilo era tudo uma suposta ação de charme. Quando acabou o jogo, já depois do meu golo, perguntaram ao Queiroz se me queria e ele disse "agora já não". Resumindo, fui para o F. C. Porto, porque o F. C. Porto sempre trabalhou bem os reforços, com discrição e sem aparato como os outros.
E o que encontraste no F. C. Porto?
Um balneário de campeões com reforços de clubes da classe média: eu do Braga, o Sérgio Conceição do Felgueiras, o Zahovic do V. Guimarães, o Artur do Boavista, o Fernando Mendes do Belenenses. O F. C. Porto foi tri pela primeira vez na história e a época também é especial pela campanha na Liga dos Campeões.
Então?
Passámos o grupo e só fomos eliminados pelo Manchester United nos quartos de final. Olha, é a única camisola que ainda guardo, a do Cantona.
Grande orgulho. Para o Cantona, óbvio.
Ah! ah! ah". Ele deve tê-la bem guardadinha na gaveta.
E o grupo da Liga dos Campeões?
Ganhámos 3-2 em Milão.
Maravilha, e tu jogaste?
A titular.
Qual era a missão?
Andar atrás do Baggio, Roberto Baggio. Que sonho de jogador.
E o jogo cá é aquele do Weah e do Jorge Costa?
Nem mais, que confusão no balneário.
E tu lá no meio?
Lembro-me de ver uma série de cotovelos pelo ar, ah! ah! ah! E todos queriam bater no Davids, porque era o mais pequenino. O Desailly, por exemplo, era o mais calmeirão e ninguém tocou nesse. Ele estava lá de braços cruzados a ver tudo.
Que experiência.
Experiência a sério é jogar em pelados, ó Rui. Experiência a sério é lutar para não descer de divisão. Como aquele 2-2 no Bonfim, na era Jesualdo em Braga. Fui suplente e só entrei aos 65 minutos para gerir. Estava 2-0 para o Vitória e custou-me gerir. Porque o Braga estava vai-não-vai para a 2.ª Divisão. Tal como o Vitória, aliás.
E o que se passou?
Marquei os dois golos do empate e o Vitória desceu nessa tarde. O Braga safou-se.
Barroso herói.
Nada disso, nunca quis esse papel. Nasci em Braga, fui criado em Braga e jogava no Braga desde os 13 anos. Fiz tudo, joguei em todos os escalões: Maximiano nos distritais, Arsenal de Braga na 3.ª e 2.ª, Rio Ave na 2.ª, Braga, F. C. Porto e Académica na 1.ª Divisão.
Eischhhh, Arsenal de Braga. Já não ouvia esse nome há décadas.
Joguei lá. E, digo-te, adorei. Em 1990/91, fomos mais longe na Taça de Portugal que o próprio Braga. Até eliminámos o Estoril do Fernando Santos, 4-2 após prolongamento. Que festa boa.
E a seleção portuguesa?
Um jogo, ainda jogava pelo Braga, em janeiro 1997, com o Canadá, no Canadá. Empatámos 1-1, ganhámos o Torneio Skydome.
Só um?
Fui convocado mais vezes, mas só esse no Canadá. Uma vez, já com o Artur Jorge a selecionador, fui para o banco com a França. O jogo foi no 1.º de Maio e entraram todos os suplentes, menos eu e o Quim, ambos do Braga. No final, os jornalistas perguntaram-me como me sentia. Disse-lhes a verdade, que gostava de ter jogado em casa. O título da reportagem no dia seguinte foi depreciativo e nunca mais fui convocado.
Os golos, esses, continuaram a aparecer.
Ah! ah! ah! Sempre quis atirar à baliza. É uma mania de miúdo.
Marcaste 12 em 2002/03.
Já tinha 32 anos e fui o melhor marcador do Braga nessa época. O último é ao F. C. Porto do Mourinho, três ou quatro dias depois da vitória na Taça UEFA.
Grande craque.