Depois de bisar, Bruno foi ao grupo de amigos do WhatsApp, que começaram a jogar a bola com ele, agradecer o apoio e partilhar os louros.
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Depois de duas assistências contra o Gana, Bruno Fernandes elevou a fasquia e bisou contra o Uruguai, tornando-se um dos principais protagonistas do apuramento de Portugal para os oitavos de final do Mundial. Das ruas de Gueifães, na Maia, para os grandes palcos do Catar, não interessava se os adversários eram mais velhos, ou se aplaudiam das janelas de onde assistiam às jogadas do "puto franzino". O talento já lá estava. "O Bruno foi observado por Boavista e F. C. Porto, quando jogava pelo F. C. Infesta. Despertou interesse, mas o F. C. Porto não tinha transporte, ao contrário do Boavista, e isso pesou, porque os pais não conduziam", conta, ao JN, Eduardo Moreira, treinador do médio no Bessa.
O Bruno mal imaginava que a aventura de uma vida começava ali e durante uma década envergou a camisola axadrezada. Foi nessa altura que se cruzou com Dário Gomes, outra criança chegada da Guiné-Bissau, com quem mantém amizade e partilha um grupo de WhatsApp com antigos colegas da formação. "Acompanhamos o Bruno através dos "bianco negros", partilha Dário, que recorda como se começou a construir a amizade entre ambos. "Viajávamos juntos na carrinha do Boavista. No dia seguinte, ele chegava às 6 horas da manhã ao lar do clube, onde eu estava hospedado, e ficava ali a dormir até entrarmos para as aulas", recorda. Na memória de Dário também ficou gravado o primeiro golo na Europa. "Foi em Santarém, num torneio, ele jogava a central mas foi lá à frente cruzar e eu marquei. Passaram a chamar-lhe Beckenbauer", junta.
Garantidos os oitavos de final, Bruno foi aos "bianco negros" deixar uma mensagem. "Disse que o sucesso dele também era nosso e que quando viesse a Portugal íamos todos jogar bilhar para falar do Mundial", revelou Dário, que não esconde a admiração: "O Bruno pode ter o estatuto que tem hoje, mas isso não o impede de se lembrar dos amigos. Outro ignorava-nos, mas ele só tem dado lições de humildade e não se esquece de onde veio".
Voltando ao Mundial, Bruno também é daqueles que não se deixam influenciar por estatutos. "Se repararem no golo do Rafael Leão, ele tinha a oportunidade de rematar, mas esperou pelo timing certo para meter a bola no Rafael, apesar da pressão do Ronaldo, que estava na direita. Isso também o define. Não olha a estatutos, mas a quem está nas melhores condições", garante.
São incontáveis as viagens dos amigos para o ver jogar e não faltam camisolas suadas na Champions para contar histórias. Mas o "bianco negros" ajuda a matar saudades a cada passo. "Bruno Vieira, Edu, Mário Cunha, Tiago Carvalho, Pedro Paiva, Francisco, eu e o Bruno estamos sempre ligados, mas também somos os mesmos que o criticam, quando as coisas lhe correm mal e ele aceita", partilhou, ao JN.
Detalhes
Antigo treinador explica segurança
Quando Bruno partiu para a cobrança do penálti, Eduardo Moreira, treinador do médio nas camadas jovens do Boavista, tinha a certeza de que a bola ia entrar. "Já era assim no Boavista, vem da confiança dele naquilo que faz. Não treme", lembrou.
Na formação fez todos os setores
Bruno foi lateral, central e até avançado, antes de se fixar no meio-campo, e Eduardo Moreira explicou porquê: "Tinha técnica, bom domínio de bola e capacidade de passe incomum".