A duas semanas do início da Liga, Benfica e F. C. Porto aceleram na construção do plantel e demonstram a mesma preocupação no meio-campo. As águias contrataram Richard Ríos por 27 milhões de euros, a mais cara da história do clube. Mas o F. C. Porto não se ficou atrás e garantiu Victor Froholdt por 20 milhões.
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Richard Ríos foi jogador de futsal e até chegou a representar a seleção colombiana, antes de enveredar pelo futebol, mas as características ficaram e até ajudaram a fazer dele um jogador diferente, dotado de capacidades que o ajudam a superar a concorrência no meio-campo. “Só começamos a conhecer o Richard Ríos quando sofreu uma lesão muito feia no joelho, no Mazatlán, no México. As imagens da lesão tornaram-se virais nas redes sociais. Mais tarde deu nas vistas na 2.ª Divisão brasileira, com vídeos em que se percebia a visão de jogo e uma técnica acima da média. Era um médio com uma capacidade de drible muito grande e depois percebeu-se que vinha do futsal e estava tudo explicado”, contou, ao JN, Pipe Sierra, jornalista freelancer colombiano.
Na apresentação na Luz, o internacional colombiano reconheceu que são algumas características que traz do futsal que fazem dele um médio diferente. “Ainda traz esse chip com ele, na forma como manobra a bola, no drible e por gostar de mantê-la a bola à flor da relva”, reforçou Pipe Sierra. “Mas ele junta a isso tudo uma boa leitura de jogo, para lá da grande capacidade física. É um médio único com características muito boas e grande capacidade no ataque, não é muito goleador, mas é capaz de cabecear com muito perigo e remata bem de fora da área. Diria que a sua característica principal é a leitura de jogo e uma grande capacidade para meter a bola onde quer. Além disso, luta muito, é muito agressivo no momento de recuperação”, completou o jornalista.
“Há dois anos já o tinha oferecido ao Benfica, mas não o quiseram”, surpreende Ricardo Ramos, empresário português que trabalha muito com o mercado colombiano, em declarações ao JN. “Mas, ao contrário de outros colombianos que se transferiram para a Europa, ele chega com a vantagem de ter trabalhado com um treinador português, neste caso o Abel Ferreira, no Palmeiras, e de nestes últimos anos ter trabalhado o lado tático, que muitas vezes é uma lacuna dos futebolistas colombianos. Isso vai ajudá-lo a lutar pelo seu espaço e entrar em melhores condições”, apontou o empresário.
Depois da última temporada no Palmeiras ter sido muito positiva para o médio colombiano, Ricardo Ramos não estranhou a transferência. “Ele começou a explodir mesmo na Copa América, quando chegaram à final contra a Argentina”, apontou o empresário português. As imagens de Ríos pegado com Otamendi, na final, tornaram-se virais e até levaram o Benfica a brincar com a situação no vídeo de apresentação do reforço colombiano. “Mais recentemente, deu nas vistas no Mundial de Clubes e era de esperar que saísse do Palmeiras”, completou o português.
Com a chegada ao Benfica, Ríos tem agora a oportunidade de se afirmar no futebol europeu. “É curioso, porque os colombianos nunca se destacaram no Benfica, talvez à exceção de Bermúdez. Os que singraram em Portugal foram os que jogaram pelo F. C. Porto, de resto, dos que passaram mais recentemente pelo Benfica, nem Arango, Guillermo Cellis, ou Yoni González conseguiram vingar. Como o Richard Ríos é um jogador viral nas redes sociais, vai ajudar a marca do Benfica na Colômbia, onde o F. C. Porto é muito mais reconhecido depois do sucesso que teve com jogadores como Guarín, Falcão, Jackson, James, Uribe e Luis Díaz”, rematou Pipe Sierra.
A transferência de Victor Froholdt para o F. C. Porto acabou por não surpreender os dinamarqueses, nem os 20 milhões de euros, mais dois em variáveis, pagos pelos azuis e brancos por um jogador de apenas 19 anos, é bom sublinhar. Nas redes sociais é fácil tropeçar em comentários apaixonados, como o de um adepto do F.C. Copenhaga. “Acho que vão gostar muito dele, segui de perto a temporada e é absolutamente top como médio. Quem ficou triste foi o meu filho de seis anos, que vê partir o seu jogador preferido e me pediu logo para acompanharmos os jogos do F. C. Porto. Parece que ganharam mais um adepto na Dinamarca!”, comentou “PlaidPiggy”, no Reddit, no meio de dezenas de adeptos azuis e brancos ávidos por saber mais sobre o nórdico.
Froholdt estreou-se na equipa principal do F.C. Copenhaga com 17 anos, em 2023/24, participou em oito jogos, marcou dois golos e fez uma assistência, fixando-se na equipa principal na época passada. Em consequência disso, em março, o médio estreou-se na seleção A nórdica, contra Portugal, na Liga das Nações, entrando aos 83 minutos. Curiosamente, Froholdt e Portugal viriam a cruzar-se na fase de apuramento do Euro sub-19. Depois de 53 jogos, seis golos e três assistências o salto deu-se e a sensação de que os dragões desencantaram uma grande revelação acentuou-se com a reação de Manniche, antigo jogador do Benfica.
“Realmente, ele é mesmo top, só tenho pena que não tenha assinado pelo meu Benfica”, lamentou o antigo avançado encarnado, em declarações ao JN. “É um box-to-box, rápido, um jogador que joga muito para a equipa. Tanto pode atuar como seis, como oito, sobre a direita. Sabe fazer tudo e cobre muito terreno”, acrescentou ainda, sem se deter.
Reputado por se entregar ao jogo, o médio, eleito o melhor jovem da liga dinamarquesa, não pára os 90 minutos. Froholdt é daqueles que arrasta a equipa para a frente, com subidas com bola e grande capacidade de passe, mas também implacável a defender, como o comprovam as elevadas percentagens de recuperações, interceções e desarmes na sua zona de “jurisdição”, que revelam um médio com grande volume de trabalho e que chegou a estar nos planos do Eintrach Frankfurt.
Para afastar dúvidas, Manniche foi claro quanto aos riscos de um investimento tão elevado num jogador tão jovem: “Não vejo risco algum nesta contratação, pelo contrário, foi um grande golpe de mercado do F. C. Porto, foram muito perspicazes. Ele até pode não se fixar de início no onze, vai precisar de trabalhar, porque a concorrência será mais forte, mas ele tem tudo o que é necessário. Só precisa de ter paciência, nem a adaptação será um problema, porque tem boa mentalidade, já mostrou que sabe o que quer”.
Na última chamada à seleção, o selecionador Brian Riemer também não conteve a admiração: “Fez uma temporada superior, faz lembrar a grande época de Christian Poulsen, em 2000!”. O antigo internacional Steven Lustu concorda que esta foi uma transferência “sensacional”. “O F. C. Porto conseguiu um ‘furo’ no mercado, ele é maravilhoso! Vi o início dele, começou como seis e mostrou logo que tinha qualidades. Pode jogar a oito, porque na Dinamarca o seis e o oito jogam de forma muito semelhante, quando um sobe o outro fica, não se fixam tanto em funções defensivas, vão trocando. Mas acho que ainda vai evoluir muito”, comentou ao JN.