Rivalidade centenária: águias e leões defrontam-se hoje pela 325.ª vez, num duelo sempre apimentado e além das quatro linhas.
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Benfica e Sporting protagonizam hoje um dos duelos mais relevantes de sempre, face à inédita chance de as duas equipas conquistarem o título no mesmo jogo. Mas o encontro 325 entre os velhos rivais é só mais um capítulo, no já centenário despique, que começou no primeiro encontro entre ambos, em 1907 e perdurou até hoje.
A luta pelos títulos foi quase sempre emotiva, com ligeira supremacia do Benfica (139 vitórias, contra 115 do Sporting), mas com frequentes motivos de festa. O despique desta época faz lembrar o jogo de 1947/48, em que o duelo foi decidido por um único golo, a favor do Sporting.
Mas a luta comum pela contratação de vários jogadores e os desvios de craques apontados ao rival foram frequentes, sendo a mais evidente a chegada de Eusébio, ao Benfica, em 1960, quando o falecido avançado estava encaminhado para o Sporting.
O verão quente de 1993 levou Pacheco e Paulo Sousa do Benfica para o Sporting, clube que recebeu João Vieira Pinto em 2000, após o ex-avançado ter rescindido com as águias. Se em 2000 o técnico José Mourinho esteve para sair para os leões, Jorge Jesus, em 2015, concretizou esse trajeto.
Houve também alturas em que a rivalidade ultrapassou os limites, como na final da Taça de Portugal de 1995/96, quando um adepto do Sporting morreu, atingido por um “very light” lançado por um adepto adversário. Um caso agora reavivado, pois os dois clubes, daqui a 15 dias vão disputar novamente a final da prova.
1907: oito águias saem para os leões
Dia 1 de dezembro de 1907. O primeiro jogo entre os dois clubes, a contar para o Campeonato de Lisboa, acabou com triunfo leonino, em Carcavelos, por 2-1. Além da derrota, o Benfica teve de enfrentar a debandada que se seguiu, com oito jogadores a partirem para o rival, em busca de melhores condições, dado que na altura só os leões tinham recinto próprio para treinar e jogar. Uma desfeita que caiu mal, nas hostes encarnadas.
1948: chegar ao título pela diferença de um simples pirolito
Sporting e Benfica acabaram empatados a Liga de 1947/48. Os jogos entre ambos foram decisivos. Os leões, que tinham perdido em casa (1-3), venceram fora por 4-1. O jogo, disputado a quatro rondas do fim, foi muito polémico, com acusações à mistura. O título ficou conhecido pelo campeonato do pirolito, uma bebida gasosa que se fechava com um pequeno berlinde, a mesma bolinha (golo) que decidira o campeão.
1960: Eusébio “desviado” com sinais de rapto
Eusébio espoletou um dérbi de mercado, no verão de 1960. O então jovem avançado moçambicano (18 anos) dera nas vistas no Sporting de Lourenço Marques, filial dos leões. O Sporting queria-o, mas o avançado acabou por viajar para Lisboa, alegadamente com nome falso, para assinar pelas águias. O antigo jogador, que teve uma carreira muito bem sucedida nos encarnados, negou sempre a tese de rapto, acentuando que optara por quem lhe oferecera melhores condições.
1993: Verão quente com dupla em Alvalade
A polémica começara meses antes, com a hipótese do regresso de Futre aos leões. Mas o antigo craque completou a volta aos grandes e assinou pelo Benfica. Mal pôde, o Sporting retaliou, com o então presidente Sousa Cintra a contratar Pacheco e Paulo Sousa ao velho rival. Ambos alegaram salários em atraso para a desvinculação e o certo é que saíram mesmo, para Alvalade. Sousa Cintra ainda tentou fazer mais estragos, mas ficou-se pela dupla.
1996: “Very-light” mata adepto no Jamor
A final da Taça de Portugal de 1995/96, disputada no Jamor entre Benfica e Sporting, ficou manchada pela morte de um adepto leonino, no decorrer do jogo, vítima de um “very-light” que se provou ter sido lançado por Hugo Inácio, que fazia parte da claque “No Name Boys”. Rui Mendes, a vítima, tinha 36 anos. O encontro acabou por se disputar até ao fim, tendo a vitória pertencido às águias (3-1), que assim ergueram o troféu.
2000: Menino de ouro sai por mútuo acordo
João Vieira Pinto deixou o Benfica por mútuo acordo, em junho de 2000, tendo assinado a rescisão contratual em pleno estágio da seleção portuguesa. Tinha contrato até 2004, era o capitão e conhecido por “Menino de Ouro”, mas alegou ter sido dispensado pelo técnico Jupp Heynckes. No mês seguinte, quando voltou do Euro 2000, mudou-se para o Sporting, pela mão de Luís Duque. Uma traição que custou a engolir aos benfiquistas.
2000: Mourinho arrisca, mas perde pau e bola
O Benfica, que havia dois meses era orientado por José Mourinho, aposta de Vale e Azevedo, vence 3-0 o Sporting. O técnico pediu maior exigência contratual a Manuel Vilarinho, que, entretanto, batera o anterior presidente nas urnas, só que o novo líder preferiu Toni. Mourinho foi apontado aos leões, mas os adeptos não gostaram da forma como comemorara o êxito no dérbi e vetaram-lhe a entrada. Acabou na União de Leiria.
2015: Jesus cumpre desejo do pai
Após seis épocas no Benfica, apesar dos bons resultados, o desgaste é notório e as negociações com Luís Filipe Vieira não conduzem à continuidade. Bruno de Carvalho, então presidente do Sporting, aproveita o ensejo e convence Jorge Jesus a mudar-se de ares. Vieira ainda pediu 14 milhões de euros de indemnização, queixa que depois esqueceu. O experiente técnico cumpriu mesmo o desejo do falecido pai e esteve três anos nos leões.
2015: Denúncias de jantares e prendas
Em outubro de 2015, Bruno de Carvalho, então presidente do Sporting, denunciou o que viria a ser apelidado de caso dos “vouchers”. Na altura, o ex-líder leonino insinuou que o Benfica subornava árbitros com jantares e outras prendas para obter benefícios, gastando 250 mil euros/ano, enquanto os leões se limitavam a deixar comida no balneário e “ia lá o fisioterapeuta ver se estão bem”. A denúncia acabou arquivada.
2022: João Mário sai com Inter ao barulho
Após ter voltado ao Sporting em 2020/21, cedido pelo Inter, na época seguinte João Mário assina pelo Benfica, contrariando as intenções leoninas. O clube italiano pediu cinco milhões de euros aos leões pelo passe definitivo do médio, não houve acordo e o jogador acabou por se vincular a custo zero pelas águias. Os leões pediram 30 milhões de indemnização ao emblema de Milão, mas perderam a batalha.