Especialista Paulo Rossas considera que os clubes têm poucos produtos direcionados. Seguidores dos jogadores estão por trabalhar.
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O dérbi das redes sociais está longe de... entrar em campo. É a conclusão que se tira de uma curta análise feita por Paulo Rossas, chief Innovation na Lisbon Digital School. O que é que se quer dizer com isso? Simplesmente que boa parte da gestão que os clubes fazem das redes sociais em Portugal vive muito daquilo que "dá à costa", ou vai na onda das chamadas "trends", ou tendências. Falta trabalhar produto e direcioná-lo. "Tem vindo a melhorar, mas podiam fazer muito mais. Os clubes nem precisam de gastar dinheiro, porque as pessoas vão diretamente às páginas para saber o que se passa. Mas continua a não haver profissionalização das redes sociais dos clubes, em Portugal. Lá fora, há uma plataforma gratuita que mostra aquilo em que estão a investir para vender produto e, se formos ver, Benfica, F. C. Porto e Sporting têm zero anúncios a vender produto. Mas quando vamos ver, o Manchester United têm três mil anúncios para o Mundo inteiro, com produtos direcionados para as comunidades dos jogadores", explicou.
É claro que, por esta altura, os bilhetes para o dérbi Benfica-Sporting já estão vendidos, mas o que não existe é outro tipo de produto, ou merchandising, à venda, ao contrário do que sucede no estrangeiro e o mercado nem é tão pequeno como isso em Portugal. "O Facebook tem 6,4 milhões de portugueses, o Instagram 5,6 e o Tik Tok 3,6. Estas três plataformas e o próprio Twitter, com dois milhões, deviam estar a trabalhar a todo o vapor até ao dia do dérbi", insistiu Paulo Rossas, especialista em redes sociais.
Além da dimensão dos clubes, há um aspeto decisivo que quase não tem sido explorado em Portugal e que passa pelas comunidades que os jogadores trazem associadas às suas redes sociais. Na listagem de jogadores já utilizados pelo Benfica, percebe-se que os pouco mais de 7,5 milhões de seguidores do clube da Luz nas redes sociais - o JN privilegiou as três principais redes e excluiu o Tik Tok - são ultrapassados pela dimensão das comunidades de alguns jogadores, como Draxler 11,8 milhões e Otamendi 10,9. Além deles, a dimensão de Enzo Fernández, mais de 6,9 milhões de seguidores, e Neres 5,2, no social, também são consideráveis. No Benfica, Draxler é todo um Mundo de oportunidades para explorar comercialmente: "Mas tem de se fazer esse trabalho de comunidade no clube e entre clube e jogador, que não é feito. É preciso usar a língua alemã em anúncios direcionados para valorizar o jogador e aquilo que ele traz com ele e não vemos anúncios do Benfica em alemão".
Mundial faz crescer
O Mundial do Catar fez crescer as redes dos argentinos do Benfica mas, uma vez mais, pouco ou nada mudou em termos de abordagem: "Com o Enzo, o Benfica cresceu imenso no Tik Tok, mas não direcionou nada para a Argentina. É preciso criar equipas específicas a pensar o social para a comunidade. E podia estender-se a Otamendi, Grimaldo, Bah, Neres. O que faz crescer as redes sociais são as pessoas e muitas chegam com os atletas. Só depois vêm os clubes. Fazer estas comunidades custa zero euros, mais difícil é explorá-las comercialmente".
O Sporting contratou o japonês Morita e, uma vez mais, pergunta-se de que forma é que isso tem dado retorno nas redes sociais? "Abre portas na Ásia, mas depois não se dá seguimento. Lembro-me que quando o Slimani veio para o Sporting, as redes sociais do clube cresceram imenso, viram-se muitos comentários do país dele e não havia um trabalho de camisolas do Slimani, por exemplo, direcionado", apontou Rossas.
Com pouco mais de um milhão de seguidores, Coates é o jogador do Sporting com maior comunidade, seguindo-se Trincão e Arthur Gomes, mas todos eles com menor dimensão comercial do que o clube, que reúne cerca de 4,8 milhões de seguidores nas três principais redes sociais.