Noruega foi multada por não querer jogar de biquíni e descontentamento estende-se a outras seleções.
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O Europeu de Andebol de Praia, na Bulgária, fez correr muita tinta graças à seleção norueguesa. Não por causa da medalha de bronze conquistada pelas nórdicas, antes pela tomada de posição devido ao equipamento: as atletas recusaram jogar de biquíni e apresentaram-se no último jogo, diante da Espanha, com calções. A decisão acabou mesmo numa multa imposta pela Federação Europeia de Andebol (EHF), de 150 euros por jogadora - 1500 euros no total -, devido, segundo este organismo, "ao uso de roupa imprópria".
As regras são claras: nesta modalidade, os homens jogam de calções e camisola de manga cava, enquanto as mulheres têm de jogar com um top e a parte de baixo do biquíni "justo e com um corte num ângulo para cima em direção ao topo da perna". E mais: "A largura lateral deve ser no máximo dez centímetros". Descontente e considerando que a diferença nada mais é do que sexismo, a equipa norueguesa tinha pedido permissão à EHF para usar calções, mas acabou multada na mesma. Porquê? Porque o pedido precisa do aval da Federação Internacional, a responsável pelas regras de jogo, que pode, ou não, pedir opinião às atletas e respetivas federações.
"Os equipamentos fazem parte das regras, que são da responsabilidade da Federação Internacional. Não existe autonomia para se fazer diferente do exigido. Normalmente, a Federação Internacional pede opinião a Federações, atletas e árbitros, mas não é obrigada a fazê-lo e pode mudar regras sem questionar, o que já aconteceu", explicou, ao JN, Pedro Sequeira, do Comité Executivo da EHF.
As escolhas dos equipamentos também se prendem com questões técnicas - o andebol de praia, por exemplo, exige uma grande liberdade de movimentos - mas a maior diferença entre os equipamentos masculinos e femininos não é bem vista por todos. "O que tem acontecido na Europa é que algumas atletas não gostam que os equipamentos entre homens e mulheres sejam tão diferenciados. No andebol de pavilhão, por exemplo, não acontece. Tem havido dúvidas se o que se está a valorizar é o jogo em si ou existe uma promoção do corpo da mulher".
Ainda assim, pode haver mudanças à vista. Depois da Noruega já ter, antes da competição, apresentado uma proposta no congresso da EHF para a mudança de equipamentos, a Federação Europeia já se mostrou disponível para debater o tema "tendo em conta o interesse das federações" e levar o assunto mais além. "O congresso da Federação Internacional é no inverno e, provavelmente, esse assunto deverá ser discutido", concluiu Pedro Sequeira.
Elas defendem a liberdade de escolha
GRD Leça: atletas sentem-se confortáveis mas apelam a novas regras. Preocupação extra com as mais jovens.
Apesar de se sentirem adaptadas à atual indumentária implementada para a prática da modalidade, as jogadoras portuguesas de andebol de praia defendem que a regra deveria atender a uma maior liberdade, deixando ao critério da atleta a escolha entre calções ou cueca de jogo.
"O atual equipamento já está em vigor em Portugal há alguns anos, mas inicialmente foi um choque, porque é quase como nos expormos com a nossa roupa íntima. Na altura, senti-me desconfortável, mas depois acabei por me habituar e hoje já não penso nisso", confessou, ao JN, Catarina Oliveira, jogador do GRD Leça e capitã da seleção nacional.
A atleta, 30 anos, defende, ainda assim, que "cada uma deve jogar como se sentir mais à vontade" e embora compreenda que "tem de haver uma uniformização na equipa", não considera que a imposição seja benéfica para modalidade.
A mesma posição partilhou Andreia Costa, guarda-redes, 28 anos, que apesar de se sentir "confortável" com o atual equipamento, lembra que "há outras jogadores que não pensam da mesma", levando até a desistências". "A regra tinha de ser mais abrangente. Jogar de cueca ou calção tinha de ser uma opção pessoal, até porque não interfere no jogo em si e na capacidade das jogadoras", analisou a guardiã do GRD Leça, que também é internacional.
A jogadora reconhece que o corpo feminino se torna apelativo para a divulgação da modalidade, mas garante que "quando entram em campo as atletas não pensam se estão a ser observadas pelo seu físico". "Tenho pena que este alarido possa impedir a evolução da modalidade e, quem sabe, travar a entrada de jogadoras".
Proteção especial
Nuno Baptista, treinador da equipa sénior, confirmou que a questão de indumentária "nunca foi algo que criasse problema no clube", mas lembrou que as regras contemplam que "se atleta não se sentir bem, por uma questão física ou psicológica, pode usar outro tipo de equipamento, apresentando um relatório médico".
O técnico alertou que para os escalões mais jovens há que ter um cuidado especial. "Uma mulher já tem outro entendimento do seu corpo, mas no caso das atletas mais jovens tem de haver mais proteção. Não queremos perder jogadoras por esta questão", vincou.