
Boavista pode não inscrever-se na Liga 3
Foto: Miguel Pereira
A indefinição ameaça arrastar-se e complicar ainda mais a situação do clube cuja Direção ainda não veio a público serenar os sócios. Inscrição na Liga 3 é uma incógnita e a descida aos distritais pode ser uma realidade.
O futuro do Boavista é a grande preocupação de sócios e adeptos do clube e, apesar de a SAD manter a esperança de conseguir cumprir os requisitos para jogar na Liga 3 na próxima temporada, o risco de uma queda no distrital cresce a cada dia que passa. Conforme o JN já noticiou, o clube também avançou há dias com a inscrição de uma equipa B na Associação de Futebol do Porto, para se precaver, mas nem isso estará garantido, por causa do passivo de 85 milhões de euros que o emblema liderado por Garrido Pereira carrega nos ombros. Mas há ainda que acrescentar o buraco da SAD de 150 milhões. Sem receitas que permitam responder a uma despesa esmagadora, já sem falar na manutenção do Estádio do Bessa, o clube vive à beira do precipício.
“A situação não é fácil e as pessoas que estão no clube vão ter de dar algumas explicações. Tanto quanto sei haverá uma assembleia-geral do clube no dia 12. Faço parte de um grupo de sócios que pediu ao senhor presidente da Direção para falarmos, exatamente, sobre o futuro do clube. Mas as coisas estão complicadas e o défice é terrível”, reconheceu, ao JN, Álvaro Braga Júnior, antigo presidente do Boavista. “É evidente que quem concorreu às eleições sabia das dificuldades que ia encontrar e acredito que deve ter uma solução, ou então as pessoas são inconscientes. Fui presidente do Boavista para o clube não fechar portas, apaixonei-me e agora sinto uma grande dificuldade para entender algum silêncio. Gostava de saber qual é a solução que o presidente do clube tem para resolver este problema. Seguramente que sabiam que isto podia acontecer, porque isto não é de agora e as eleições não foram assim há tanto tempo”, prosseguiu. O JN procurou explicações junto dos responsáveis do clube e tentou chegar à fala com Garrido Pereira, presidente do Boavista, de várias formas. Arnaldo Figueiredo, presidente do Conselho Geral, também foi alvo de várias tentativas nos últimos dias, mas sem sucesso em ambos os casos.
Se a SAD não arranjar solução para as dívidas à Segurança Social e às Finanças, a inscrição na Liga 3 deverá ficar comprometida e a insolvência será o destino mais provável, o que levaria o clube a ter de recomeçar nos distritais. Mas para tal, a dívida teria de ser redimensionada, com o acordo dos credores, caso contrário a viabilidade seria impossível e uma refundação uma via aberta, mas que todos preferiam evitar. “É complicado, o estádio pertence ao clube e há maneiras de não o perder. Se forem jogar umas divisões mais abaixo será difícil de segurar, pela manutenção que exige, mas também há maneiras de impedir essa degradação. Se calhar falando com a câmara municipal, depois das eleições, até podemos encontrar algum auxílio. Mas o Boavista é uma preocupação geral. Temos a academia muito bem entregue e estamos a obter bons resultados na ginástica, mas acho que quem foi eleito é que tem de dar respostas”, apontou Álvaro Braga Júnior. “O momento preocupa, mas há soluções para que o clube continue, e muita coisa terá de ser redimensionada”, reforçou Manuel Maio, antigo presidente.
Estádio é um problema
O Estádio do Bessa tem funcionado como uma “bola de chumbo”, que pesa cerca de 56 milhões de euros e é uma parte substancial da dívida, mas, ao mesmo tempo, é uma infraestrutura essencial para que o clube mantenha a sua atividade. Para lá de uma parte importante da formação, contam-se 22 modalidades, algumas delas dependentes do recinto para evoluir. “Conheço bem a realidade do clube e sei que as modalidades, na sua grande maioria, são autónomas. Uma ou outra poderá ter algumas dificuldades, mas a maior parte gera as suas próprias receitas. Quando fui dirigente do clube promoveu-se a criação de receitas próprias para cada modalidade, que acabam por ser independentes. Há um défice, por falta de um pavilhão, que obriga a alugar espaços e leva uma parte das receitas. Mas a viabilidade do clube pode obrigar uma ou outra modalidade a acabar. Agora, o que me preocupa é o ‘elefante branco’ que é o estádio e o passivo que gera”, concordou Manuel Maio, membro do Conselho Geral do clube e da Assembleia Geral da SAD.
Com um clube sem capacidade para gerar receitas, a preocupação é inevitável. “O estádio representa um encargo enormíssimo em manutenção e custos fixos elevados, que terão de ser redimensionados numa nova realidade. Preocupa, mas será ultrapassado se for redimensionado e nessa altura terá capacidade para gerar receitas. Estou informado e admito e aceito que os sócios não tenham a informação que desejavam, mas teriam de perguntar à Direção do clube”, defendeu ainda o dirigente. “Espero que o presidente dê explicações para resolver os problemas, mas queria ouvir as verdadeiras justificações. Neste momento não tenho de apontar caminhos, até porque nem tenho cargo no clube. O presidente é que tem de apresentar soluções”, reforçou Álvaro Braga Júnior.
