Quase 20 anos depois de atrair Rivaldo ou Scolari, o Uzbequistão culmina forte investimento com o apuramento inédito para o Mundial.
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Abdukodir Khusanov já é um herói usbeque, aos 21 anos. No início do ano, rumou ao Manchester City e tornou-se no primeiro jogador deste país da Ásia Central a jogar na Premier League; agora, é a cara da geração que leva o Usbequistão a um Campeonato do Mundo pela primeira vez. O feito foi alcançado na semana passada, celebrado dias depois com uma vitória (3-0) sobre o Catar, perante um estádio lotado de orgulho, e teve honras de Estado. Cada membro da seleção recebeu um carro e condecorações, para além da admiração geral de quase 40 milhões de compatriotas, que até há bem pouco tempo viviam num país governado por uma ditadura mais ou menos camuflada e que era pouco mais do que um deserto fora da capital Tashkent.
Khusanov é também fruto da mudança que vem sendo operada nesta ex-pátria soviética, com o futebol a servir de veículo a um certo desenvolvimento que levou outras atividades por arrasto. Começou a jogar à bola cedo, mas foi na academia do Bunyodkor que daria o salto indispensável para atingir o nível atual, repetindo, por exemplo, o percurso de Shomurodov, o capitão que brilha na Roma. Fundado em 2005, o clube que já contou com Rivaldo e foi orientado por Luiz Felipe Scolari, foi dos primeiros a ter infraestruturas de alto nível (ter sido suportado por Gulnara Karimova, filha do ex-presidente Islam Karimov, ajudou), servindo de ponto de partida para a revolução que se seguiria com o propósito de dotar a federação local de condições de excelência para o desenvolvimento de futebolistas. O investimento do Governo foi de tal ordem que a certa altura deixou de se fazer contas ao montante e continua a melhorar as infraestruturas de apoio às seleções. Também foram criados clubes de raiz só com o propósito de formar jogadores, como o Olympic Tashkent. Abbos Fayzullaev, outro jovem craque da seleção, fez a formação no Pakhtakor, que tem o português Pedro Moreira como treinador.
A proeza da seleção comandada pela lenda Timur Kapadze (o jogador mais internacional pelo país) é a principal consequência do investimento, mas não é a única: em 2024, o Usbequistão disputou uns Jogos Olímpicos pela primeira vez, um ano depois de os sub-20 conquistarem o título asiático. Recentemente, há ainda um título continental em sub-23 e uma Taça da Ásia em sub-17. A Ásia tem uma nova potência.