O ciclista britânico Bradley Wiggins, que, este domingo, se consagrou como vencedor do Tour2012, herdou do país o humor corrosivo, a postura confiante, qualidade intrínseca dos campeões, e o visual que, para muitos, faz lembrar os eternos Beatles.
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Em ano de Jogos Olímpicos, o britânico da Sky preferiu pensar no assalto à Volta a França em bicicleta do que na luta por (mais) uma medalha olímpica diante dos seus compatriotas e, com a amarela da maior prova velocipédica em mente, cumpriu uma temporada imaculada, a melhor da sua carreira, que culminou com a subida ao mais alto lugar do pódio nos Campos Elísios, em Paris.
Nascido a 28 de abril de 1980, em Gent, na Bélgica, o perseverante Wiggins, filho de um ciclista australiano, trocou o destino bem-sucedido no ciclismo em pista por uma aventura na estrada.
Sem nada mais para provar na especialidade que o consagrou - aos 20 anos já era figura de destaque na seleção britânica, aos 22 proclamou-se campeão mundial pela primeira vez e aos 24 conquistou o primeiro ouro olímpico dos três que tem no currículo, além de uma prata e dois bronzes -, decidiu deixar a dualidade que acumulava desde 2002 e concentrar-se unicamente na estrada depois dos Jogos Olímpicos de Pequim2008.
"Sempre quis ser ciclista de estrada", disse na altura. Em 2009, depois de uma preparação que o fez perder peso para poder ultrapassar mais facilmente a montanha, foi o quarto classificado do Tour.
O ciclista, que passou pelas equipas Française des Jeux, Crédit Agricole, Cofidis, Team High Road e Garmin, abraçou, em 2010, um projeto pioneiro, a Sky, que estabeleceu como meta colocar um corredor britânico no topo da Volta a França no prazo de cinco anos.
O ano de estreia como chefe de fila da formação britânica foi modesto, como uma performance discreta no Tour (foi 23.º), seguindo-se uma temporada com uma importante vitória no Critério do Dauphiné que criou expetativas que uma queda, durante a sétima etapa da maior prova velocipédica mundial, destruiu.
Apesar da desilusão na Volta a França, o líder da Sky acabou a Vuelta 2011 em terceiro, a trabalhar para o companheiro Chris Froome, que neste Tour viu os papeis inverterem-se.
Este ano, na partida em Liège, com os títulos no Critério do Dauphiné, Paris-Nice e Volta à Romandia na bagagem e sem Andy Schleck nem Alberto Contador presentes, o ciclista de patilhas ruivas era um dos favoritos incontestáveis, um favoritismo que confirmou logo no prólogo e que foi impondo, dia após dia, sem qualquer rival à altura -- o colega de equipa Froome, o único que podia travá-lo, teve de contentar-se com o trabalho em prol do líder.
Pai de duas crianças, colaborador da marca Fred Perry e colecionador de "scooters" e guitarras dos anos 1960 e 1970, o primeiro ciclista inglês a vestir a amarela final em 99 edições da prova francesa, a quem só as perguntas relativas ao doping no ciclismo tiram do sério, antecipou-se aos planos da sua equipa e retirou dois anos ao objetivo da Sky.
"Ainda não vi o percurso, estou a começar, não estou concentrado no resto da época. E acho que nem vou ver, vou chegar lá e correr. Não gosto de ver o traçado antes", disse à Lusa, em fevereiro, durante a Volta ao Algarve, a sua primeira prova da temporada, onde revelou que por trás de um grande ciclista há um homem de ironia mordaz.