
Abel Ferreira vai à procura de mais títulos no Palmeiras, depois de dois campeonatos e duas Libertadores
Foto: Nelson Almeida / AFP
Cinco treinadores e seis jogadores nascidos em Portugal dão cor à Série A que tem em Neymar a grande estrela. Os últimos três campeões foram técnicos lusos.
O Brasileirão está de volta. É já hoje que começam os primeiros jogos, com destaque para os encontros do Sport e do Cruzeiro, às 21.30 horas, sob o comando dos treinadores portugueses Pepa e Leonardo Jardim, respetivamente, e ainda com uma armada lusitana de respeito na equipa de Recife, bem apetrechada com Gonçalo Paciência, Sérgio Oliveira e João Silva. Esta época, há muitos motivos para acompanhar a Série A, desde logo marcada pelo regresso de Neymar, a grande estrela da prova, ao Santos, mas também colorida por 11 portugueses: cinco treinadores e seis jogadores. Nunca o Brasileirão arrancou com tantos representantes nascidos em Portugal, ultrapassando os seis técnicos e os dois futebolistas de 2023.
Nos bancos, os olhos estão em Abel Ferreira (Palmeiras), Renato Paiva (Botafogo), Pedro Caixinha (Santos), Leonardo Jardim (Cruzeiro) e Pepa (Sport), técnico que irá orientar Gonçalo Paciência, Sérgio Oliveira e João Silva. No campo estarão ainda Nuno Moreira (Vasco da Gama), Cédric Soares (São Paulo) e Rafael Ramos (Ceará) numa competição em que Renato Paiva vai defender o título de campeão nacional do Botafogo, conquistado no ano passado por Artur Jorge.
As três últimas edições foram conquistadas por treinadores português, destacando-se o bicampeonato de Abel Ferreira, no Palmeiras. O Brasileirão, de 2025, tem o recorde de 137 jogadores estrangeiros, que mostram como o campeonato se tornou num destino muito apetecível. Mas, afinal, porque é que a armada lusitana é tão atrativa? "Portugal tem uma escola de formação de treinadores melhor que a do Brasil, sobretudo no aspeto teórico, da gestão de grupo e da análise de jogos. Os resultados dos portugueses refletem-se em campo", explica, ao JN, Rodrigo Coutinho, comentador da Globo. Tudo começou em 2019 com a chegada de Jorge Jesus ao Flamengo. "O sucesso de Jesus e depois de Abel Ferreira abriram as portas. Muitas vezes, os dirigentes escolhem um treinador português como se fosse um escudo, mas não adianta achar que todos vão ter sucesso", considera, ao JN, Danilo Lavieri, jornalista do UOL, recordando os casos de Sá Pinto ou de Álvaro Pacheco, ambos no Vasco da Gama. Os dirigentes querem melhorar a qualidade do futebol brasileiro e procuram reforços no estrangeiro. "Querem aprender com a filosofia europeia, sobretudo a portuguesa, que consegue ter impacto e trazer ideias diferentes", refere, ao JN, Fábio Lázaro, jornalista no Trivela.
Além dos treinadores, os brasileiros também apostam em futebolistas lusos como bem ilustram os internacionais Sérgio Oliveira, Gonçalo Paciência e Cédric Soares. "O jogador português tem mais leitura tática, consegue ter mais funções em campo e disciplina defensiva", explica Rodrigo Coutinho. Mas esta mudança de ciclo só é possível porque "o Brasil cresceu muito em termos financeiros e pode pagar salários que vários clubes europeus não conseguem", acrescenta Danilo Lavieri.
Abel Ferreira (Palmeiras) e Renato Paiva (Botafogo) são os treinadores com mais argumentos nos plantéis e Pedro Caixinha tem um pau de dois bicos no Santos, já que treina Neymar, que procura a reabilitação depois de um calvário de problemas físicos no Al Hilal. Como é que o técnico irá gerir a grande estrela? É sentar no sofá e assistir.
Os treinadores
Abel Ferreira (Palmeiras)
Já é figura de cartaz do "Verdão" e do futebol brasileiro. Frontal, competente, mas também polémico, dentro e fora do campo. Vai à procura de mais títulos.
Renato Paiva (Botafogo)
A herança é pesada, afinal, no ano passado, Artur Jorge venceu o Brasileirão e a Libertadores. É preciso ver como adapta e transmite as ideias ao plantel.
Pedro Caixinha (Santos)
O privilégio de treinar Neymar é o melhor que terá no Santos, mas agradar à estrela pode não ser nada fácil... Um tema excitante a seguir.
Pepa (Sport Recife)
Não tem o melhor plantel do Brasileirão, mas conta com três experientes portugueses capazes de dar cartas e provar que estão aí para as curvas.
Leonardo Jardim (Cruzeiro)
O Cruzeiro tem um plantel com nomes conhecidos, mas que já terão passado da melhor forma. Leonardo Jardim tem de trazê-los à ribalta novamente.
Jogadores portugueses na Série A
Sérgio Oliveira
Sport Recife
Ex-Olympiacos
Médio - 32 anos
Gonçalo Paciência
Sport Recife
Ex-Sanfrecce
Avançado - 30 anos
João Silva
Sport Recife
Ex-Kortrijk
Defesa - 26 anos
Cédric Soares
São Paulo
Ex-Arsenal
Defesa - 33 anos
Nuno Moreira
Vasco da Gama
Ex-Casa Pia
Avançado - 25 anos
Rafael Ramos
Ceará
Defesa - 30 anos
Casas de apostas investem mil milhões nos clubes
A nova temporada do Brasileirão traz também benefícios aos clubes do ponto de vista financeiro. Todas as 20 equipas da Série A têm acordos de patrocínios com casas de apostas e o investimento destas empresas, no total, vai rondar os mil milhões de euros. Além disso, é importante realçar a entrada de novos patrocinadores pela mudança na distribuição dos direitos televisivos.
Até esta época estes, à semelhança do que acontecia em Portugal, eram centralizados, agora há uma divisão entre diferentes canais e plataformas de streaming. Foram criadas duas ligas, compostas por uma série de clubes, que negociaram separadamente os direitos de TV. A Libra, com clubes como Flamengo e Palmeiras, tem um acordo com a Globo para transmitir os jogos em casa, alguns em canal aberto e outros em exclusivo. Depois, existe também a Liga Forte União (LFU), com emblemas como o Botafogo e Corinthians. Esta tem parceria com a Record, CazéTV, do streamer Casimiro, e Amazon Prime Video. A LFU assinou contratos de patrocínio com 11 marcas, como Burger King e Heineken, aumentando as receitas dos clubes integrantes em cerca de 30%.
O calendário é alvo de preocupação. Palmeiras, Flamengo, Botafogo e Fluminense, presentes no Mundial de Clubes, não vão parar. Além do Brasileirão, com provas como a Libertadores, Sul-Americana e Copa do Brasil, as equipas vão entrar em campo, em média, de dois em dois dias. Mas para aliciar os emblemas à conquista do campeonato está um prémio de cerca de oito milhões de euros.
As novidades no Brasileirão estendem-se além do capítulo financeiro. Foi criado um comité para avaliar as decisões dos árbitros, formado por juízes de renome, como o italiano Nicola Rozolli, que apitou a final do Mundial 2024 e o argentino Nestor Pitana, árbitro da final do Mundial de 2018.
Protagonistas
Neymar (Santos)
O avançado voltou a casa 12 anos depois de ter saído para o Barcelona. A aventura no Al Hilal não correu bem e Neymar quer provar que, apesar das lesões, ainda consegue agitar os relvados.
Estevão (Palmeiras)
Já é jogador do Chelsea, mas até junho continua no Brasil. Estêvão é um dos jovens mais entusiasmantes e tem meio ano para continuar a evoluir até chegar à Europa.
Hulk (Atlético Mineiro)
Os anos passam, mas a forma mantém-se. Hulk marcou 114 golos nos quatro anos que está no Atlético Mineiro e não mostra sinais de abrandar, apesar dos 38 anos. Um jogador incrível.
