Candidatura de Villas-Boas e a reavaliação do Dragão: "Cosmética contabilística"
O diretor financeiro da candidatura de André Villas-Boas à presidência do F. C. Porto analisou as contas do primeiro semestre de 2023/24 apresentadas pela SAD dos dragões, garantiu que a reavaliação feita ao estádio não conta para o "fair play" financeiro da UEFA e criticou a antecipação de receitas televisivas.
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"Esta operação de reavaliação, para a UEFA, não vai contar. Infelizmente a UEFA diz, no artigo 88 das regras do fair play financeiro, este efeito não serve [o propósito]. Os capitais próprios deveriam ter sido melhorados em cerca de 10% e como esta operação não conta para este efeito, gostávamos de saber o que está previsto para 31 de março. É uma operação meramente contabilística, não há qualquer entrada de dinheiro, não altera em nada os resultados líquidos acumulados, a dívida financeira a 10 anos continua acima de 200 milhões de euros", afirmou Pereira da Costa.
"O passivo e dívida financeira vão manter-se iguais. Sendo certo que, contabilisticamente, há uma melhoria, também é certo que vamos ter um nível de amortizações muito mais acentuado no futuro. Não sabemos exatamente qual é a restante vida útil deste ativo [Estádio do Dragão], mas se admitirmos que será de 30 anos, isso significa que teremos um peso adicional de amortizações de, no mínimo, quatro a seis milhões de euros. Estamos a embelezar os capitais próprios no presente para prejudicar os resultados no futuro", defendeu o responsável financeiro pela candidatura de André Villas-Boas, antes de tirar uma conclusão, após lembrar que a SAD portista fez algo semelhante em 2014/15.
"Permitiu nesse exercício atingir capitais próprios positivos, mas durou apenas dois anos. É uma operação de cosmética contabilística e que terá pouco impacto na situação financeira da SAD", defendeu.
Comparação com os rivais envergonha
Durante a análise às contas, Pereira da Costa apresentou uma comparação sobre a venda de jogadores ao longo das últimas seis épocas e meia feita pelo F. C. Porto, Benfica e Sporting. Segundo o administrador financeiro, os dragões venderam mais mas lucraram menos.
"A SAD do F. C. Porto gerou cerca de 500 milhoes de euros em receitas brutas com a transferência de jogadores, mas subtraindo custos diretos e amortizações, só sobraram 52M€, cerca de 11% da receita bruta. No mesmo período, os rivais conseguiram arrecadar 36% e 46%, com resultados de 226M€ e 242M€, respetivamente. Estes são os números que nos devem preocupar e é uma comparação que não nos deixa envaidecidos, deixa-nos até envergonhados. Há um diferencial de 30 a 35% em relação aos rivais e se a performance fosse comparável, teríamos gerado mais cerca de 150M€ nos últimos seis exercícios e meio e poderíamos pagar mais de metade da nossa dívida financeira", garantiu.
O administrador financeiro escolhido por Villas-Boas voltou, ainda, ao acordo estabelecido pelo F. C. Porto com a Legends para a exploração do Estádio do Dragão: "Temos pouca informação. Poderá comprometer os próximos 20 a 25 anos, o que abrange parte significativa das receitas operacionais: cerca de 20 a 25% das receitas globais podem estar incluídas neste negócio. Deveria ser dada mais informação aos sócios e não deviam ser assumidas por uma administração em gestão e em final de ciclo", defendeu, antes de comentar a antecipação das receitas televisivas feita pela SAD do F. C. Porto.
"A dois meses de uma eleição, a administração está em gestão corrente e não devia comprometer receitas muito para além do seu mandato", garantiu.