A noite foi icónica e entrou no imaginário de todos os portugueses. Há quase 39 anos, Carlos Lopes conquistou a primeira medalha de ouro de sempre para o país, numa olimpíada, após vencer a prova da maratona, em Los Angeles.
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A competição, que decorreu à tarde na costa oeste dos Estados Unidos, noite em Portugal, foi acompanhada com nervosismo e emoção apesar da hora tardia e o feito, que levou muitos às lágrimas, motivou uma segunda edição do "Jornal de Notícias". "Carlos Lopes vencedor da maratona", podia ler-se na sua manchete de 13 de agosto de 1984, seguindo-se palavras de orgulho. "Portugal saiu em ombros da Olimpíada de Los Angeles, pela porta grande da maratona! Oito anos depois de Montreal, Carlos Lopes subiu o degrau olímpico que faltava na sua prestigiosa e prestigiada carreira". Em 1976, tinha sido medalha de prata nos 10 mil metros, faltava o triunfo!
Após mais de 42 quilómetros de combate a um calor de quase 30 graus, Lopes, na altura com 37 anos, entrou sozinho no Los Angeles Memorial Coliseum, acenou várias vezes à plateia que nunca parou de o aplaudir, antes de cortar a meta com os braços levantados. "A entrada no estádio, a ovação estrondosa para o homem de ouro da maratona - a bandeira de Portugal no topo com a melhor marca olímpica de sempre". Sim, além da vitória que marcou uma geração, o atleta, natural de Vildemoinhos, em Viseu, bateu o recorde da distância, que perdurou até aos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. O feito foi ainda mais significativo por ter sido atropelado por um carro pouco antes da viagem para o continente americano. "Foi uma corrida extraordinária de Lopes que não se ressentiu absolutamente nada do acidente que sofreu ainda há duas semanas em Lisboa. O maior fundista do Mundo soube controlar a corrida (...) e a pouco mais de cinco quilómetros desferiu um poderoso ataque, deixando para trás a grande distância todos os seus adversários".
Já noite, depois de receber um telegrama de felicitações do então primeiro-ministro, Mário Soares, subiu ao lugar mais alto do pódio. "Mais de 90 mil pessoas aplaudiram de pé o "rei"". No JN, destacou-se a capacidade física e a idade de Carlos Lopes.""Um caso sério de longevidade só comparável a Agostinho", ciclista português falecido quatro meses antes. Os Jogos Olímpicos de 1984 marcaram um antes e um depois na história do desporto nacional, até porque Rosa Mota e António Leitão também arrecadaram medalhas (bronze), em Los Angeles.