Depois do futuro promissor ter sido beliscado por algumas lesões que travaram a evolução, Carlos Mané recuperou, aos 25 anos, em Vila do Conde, o prazer de jogar com regularidade, sendo já uma das figuras no Rio Ave, clube a quem o avançado assume uma dúvida de gratidão pela confiança depositada e pela possibilidade de voltar a sentir-se realizado no mundo do futebol e até sonhar com uma chamada à seleção portuguesa.
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Após quatro meses no Rio Ave, pode dizer que foi uma aposta ganha na sua carreira?
O Rio Ave foi a melhor coisa que me aconteceu nesta fase da vida. Apostou em mim num momento difícil da carreira, onde quase ninguém acreditava nas minhas capacidades. Só tenho de estar muito grato a este clube, e quando entro em campo sinto que tenho de dar o máximo por todos.
Como surgiu a oportunidade de ir para Vila do Conde?
Estava a treinar no Sporting à parte, e recebi uma chamada do meu empresário a falar nesta possibilidade. Achei logo que seria um desafio interessante. Todos temos visto que o Rio Ave, nos últimos anos, tem a capacidade de relançar vários jogadores e projetá-los para outros patamares. Como já não jogava há algum tempo, percebi que esta era a opção certa.
Não pensou que seria um passo atrás na carreira vir do Sporting para o Rio Ave?
Não, porque estava há muito tempo parado e precisava de jogar com regularidade. Sabia que aqui, se trabalhasse bem, poderia ter essa possibilidade. Felizmente, o treinador tem-me dado a confiança para jogar e as coisas têm corrido bem. Já não me sentia tão bem desde a minha primeira época no Estugarda, onde tive uma experiência fantástica, e joguei muitas partidas.
Está totalmente recuperado das lesões que o condicionaram nos últimos anos?
Foi uma má fase, mas que já está superada. Sinto-me muito bem fisicamente, e encontrei uma equipa técnica e médica que me tem ajudado a recuperar um rendimento que já não tinha há algum tempo. Estou no bom caminho e sinto que ainda posso melhorar.
E a equipa do Rio Ave pode também melhorar para poder estar na luta por uma vaga nas competições europeias da próxima época?
Sinceramente, a Liga Europa não é um tema que seja falado no grupo. Vamos, realmente, pensando jogo após jogo, com intenção de conquistar vitórias em todos os campos. Mais para a frente veremos o que isso nos vai dar.
O Rio Ave tem mostrado alguma oscilação nas exibições na Liga. A que se deve isso?
Temos trabalhado muito bem, mas houve momentos de azar em alguns jogos, e outros em que, também, podíamos ter feito mais. Creio que estamos novamente a recuperar no campeonato e continuamos na Taça de Portugal.
Apesar de jovem, já tem alguma experiência em grupos fortes. Que avaliação faz a este plantel do Rio Ave?
É um grupo muito interessante, com bons jogadores, mas sobretudo boas pessoas. Se mantivermos a humildade e o trabalho podemos fazer coisas bonitas. Surpreendeu-me, pela positiva, o trabalho do Carlos Carvalhal, nunca tinha trabalhado diretamente com ele. Quando passou pelo Sporting eu ainda estava nos iniciados, mas lembro-me de o ver. É um treinador de equipa grande e tem colocado esse espírito no grupo.
Sente que deu tudo o que podia, e queria, enquanto esteve no Sporting?
Achamos sempre que podíamos dar mais e fazer melhor. Fico com pena de não ter jogado com mais regularidade no meu terceiro ano na equipa sénior, que causou uma quebra no meu rendimento e evolução. Tive, também, a lesão que não me permitiu dar o meu melhor.
Acabou por sair do berço do Sporting para uma aventura na Alemanha, ao serviço do Estugarda. O que retirou dessa experiência?
Sim, foi uma aventura, mas muito boa. É uma equipa grande na Alemanha, com muitos adeptos, jogávamos sempre com o estádio cheio. Eu, na altura, não estava a jogar muito no Sporting, fui falar com Jorge Jesus, que era o treinador, e ele nem queria que eu saísse. Tive muitas conversas com ele sobre isso. Mas acabei por ir e não me arrependo. Foi a equipa onde me senti melhor fisicamente. Os adeptos gostavam muito de mim e ainda hoje recebo mensagens.
Deu para aprender a falar alemão?
Sim, tinha aulas de alemão duas vezes por semana, e apreendi muitas coisas. Depois, quando me lesionei e vim recuperar a Portugal, não deu para evoluir muito na língua, mas ainda hoje percebo se falarem comigo em alemão.
Falou de Jorge Jesus, foi um treinador marcante na sua carreira?
Sim, mas também tive outros. O meu primeiro treinador na equipa principal do Sporting foi Leonardo Jardim, que é sempre especial, porque foi ele que me lançou. Depois, o Marco Silva também foi um bom treinador, com quem fiz a minha melhor época, marcando nove golos e fazendo cinco assistências. Com Jorge Jesus, individualmente, não foi muito bom, porque não joguei muito devido à lesão, mas apreendi mesmo muito com ele. É um grande treinador, dentro e fora de campo. Tem um enorme coração, gosta de falar com jogadores individualmente, para perceber o momento de cada um. Isso transmite muita confiança.
Não o surpreende, então, o que ele está a fazer no Brasil?
Claro que não, em todas as equipas que vai consegue bons resultados. No Flamengo, não foge à regra. Desejo-lhe toda a sorte.
Depois de morar em Lisboa, Estugarda, e algum tempo em Berlim, com é agora a sua vida em Vila do Conde?
É bem mais sossegada, mas estava mesmo a precisar disso. A minha família está a gostar, especialmente a minha filha, que gosta mais de estar na creche daqui do que na de Lisboa. Tudo isso deixa-me também mais tranquilo e com força para trabalhar no clube.
Recuperou a alegria de jogar no Rio Ave?
Sem dúvida, já não sentia isto há algum tempo. Sobretudo por jogar com regularidade e ver que as coisas estão a sair bem. Sinto que ainda posso melhorar, e o facto de ter companheiros de grande qualidade, que não permitem acomodações, é um incentivo.
Como foi ir, esta época, duas vezes a Alvalade e sair de lá com vitórias?
Confesso que foi um sentimento um pouco estranho. Voltar àquele estádio como adversário é sempre diferente. Fui muito bem recebido, e fico contente por isso, mas também por a equipa que agora defendo ter vencido.
Estando nesta boa fase da carreira, consegue pensar mais à frente, num próximo desafio?
Ao estar no clube que apostou em mim na fase mais difícil da minha carreira, só tenho de estar feliz por conseguir retribuir. Estou muito focado no Rio Ave, e não dá para pensar muito no futuro. Ao trabalhar bem aqui em Vila do Conde, também mostro a todos que os problemas físicos que tive estão superados.
Um novo desafio no estrangeiro, ou até um regresso ao Sporting, é algo que lhe passa na cabeça?
Qualquer jogador tem de ter um pensamento ambicioso, de querer sempre melhor do que tem, pois isso ajuda-nos a evoluir. Mas também temos de ser gratos a quem apostou em nós e, sobretudo, usufruir de um momento em que estamos felizes.
Um bom desempenho no Rio Ave pode abrir-lhe as portas da seleção nacional?
Depois do percurso que tive nas seleções jovens, penso sempre em chegar à seleção principal. Mas sei que também já estive mais perto disso, quando estava no Estugarda e era chamado aos sub-21. Tive azar de me lesionar e não ter ido ao Campeonato da Europa sub-21, que podia ter sido um salto para seleção A, como aconteceu com outros jogadores. Agora que tenho jogado com regularidade, acho que posso voltar a mostrar qualidade e valor para poder ser chamado.
CV: Carlos Mané
Data de nascimento: 03/11/1994 (25 anos)
Nacionalidade: Portuguesa
Altura: 1,73 metros
Peso: 63 quilos
Clube: Rio Ave
Percurso: Sporting, Estugarda e Union Berlin