Carlos Martingo partilhou com o JN os segredos da campanha histórica no Mundial sub-21, com a conquista do segundo lugar, a evolução dos atletas e os desafios.
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Depois de conduzir Portugal ao feito inédito de conquistar a primeira medalha de prata num Mundial Sub-21, o selecionador Carlos Martingo partilhou com o JN a desilusão por falhar o ouro, mas também o orgulho por liderar uma geração "diferenciada a todos os níveis". O técnico, de 46 nos, abordou os segredos da mentalidade vencedora da equipa, os desafios do andebol nacional e o seu equilíbrio entre a seleção, a atividade no F. C. Porto e a família.
Qual é sentimento que fica após a prestação histórica da equipa neste Mundial?
Se no arranque nos dissessem que íamos ganhar a medalha de prata, certamente que aceitávamos, pois o objetivo inicial era chegar às medalhas. Mas, com o desenrolar do torneio, e à medida que o nosso rendimento foi subindo, acabámos por sair com um pouco de desilusão, porque continuamos a achar que poderíamos perfeitamente bater a Dinamarca e vencer a final.
Esta é uma das melhores gerações do andebol nacional?
Sem dúvida. É uma das melhores de sempre. Não só pela qualidade técnica, mas também pela maneira como encaram a competição e o trabalho diário. É uma geração diferenciada a todos os níveis. Para mim, é uma responsabilidade, um orgulho e um privilégio poder trabalhar com eles.
Em que ponto do Mundial percebeu que a equipa podia fazer algo histórico?
Os dois primeiros jogos [na fase de grupos] foram fáceis, e sabíamos disso, mas a partir do intervalo do jogo com a Croácia foi quando a seleção deu o primeiro sinal que seria difícil ganhar-nos. Senti isso nesse momento. Os jogos mais difíceis de preparar foram com o Egito, por não conhecermos bem a equipa, e as Ilhas Faroé [meias-finais], não só pela qualidade individual que têm, mas também pela forma como jogam.
Além da qualidade técnica dos jogadores, que outras virtudes teve o grupo?
Um grande sentido de responsabilidade. São atletas que respeitam o corpo, sabem quando têm de descansar, de alimentar-se e hidratar-se. Todos esses fatores fora de campo são muito importantes. Além disso, são responsáveis na liberdade que lhe damos fora de campo. Sabemos que também precisam de tempo para eles, para não pensarem apenas em andebol.
Consegue apontar os motivos que levaram a termos uma geração com esta qualidade?
Não consigo dizer apenas um. É uma conjugação de fatores. Começa no bom trabalho dos clubes, nomeadamente do Sporting, Benfica e F. C. Porto, na convivência com excelentes jogadores estrangeiros que jogam em Portugal e na aprendizagem com bons treinadores. Mas sinto que o maior fator é o mental. De querer entrar em todas as competições para ganhar.
A boa prestação da seleção A também tem sido uma inspiração?
Claramente, e já vem de há alguns anos. Tem havido um crescimento sustentado da Seleção A, fruto de várias gerações. Estou certo que será uma questão de tempo até termos uma medalha na equipa principal.
Qual é o grande desafio para que possamos ter mais gerações como esta no futuro?
Temos de aumentar a base de recrutamento e também o número de atletas. Por consequência, vai aumentar o interesse pela modalidade. Fico muito contente quando vejo jovens a dizer que querem ser o Diogo Rema ou o Ricardo Brandão. Outro desafio é potenciar atletas que possam ser ídolos e uma inspiração para os mais novos.
A nível pessoal, o que significou mais uma presença numa final e a medalha de prata?
Ter estado em três finais, duas europeias e uma mundial, é motivo de orgulho, mas ao mesmo tempo de desilusão, por ainda não ter ganho o ouro. É um feito grande, de dificuldade imensa, e um marco na minha vida, mas ainda com um pouco de tristeza por ainda não ter vencido.
Como tem sido conciliar a atividade na seleção, os compromissos como técnico do F. C. Porto e a vida pessoal?
Já é natural. É um ritmo de vida que está interiorizado. Não perco tempo a pensar como vou arranjar tempo para tudo. Felizmente, as coisas têm-me corrido bem, quer a nível de clube, quer de seleção, quer a nível pessoal. Às vezes, também tenho dias maus, mas vamos gerindo. Tenho muita gente a ajudar-me, tanto nas equipas técnicas como na família.
A família já está habituada a todo esse ritmo?
Estão todos ligados ao desporto e sabem bem como isto funciona. Sempre que possível acompanho-os. Ainda agora saí do Mundial e fui para Suécia, para um torneio do meu filho, com a minha mulher e filha.