António, de apenas 10 anos, depois de ser vítima de insultos de adeptos da equipa adversária, esteve uma semana fechado em casa e só voltou com a ajuda e apoio dos colegas.
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É frequente existirem casos de comentários insultuosos a futebolistas nos estádios de futebol. Embora condenável, tornou-se usual no futebol profissional, mas desta vez o episódio ocorreu com uma criança de apenas 10 anos.
António é guarda-redes no Atlético Clube de Porto Salvo, em Oeiras, tem uma pequena paralisia cerebral por ter estado uns minutos sem respirar quando nasceu. Sempre gostou de futebol e começou a praticá-lo na Escola de Futebol Belenenses de Oeiras, mas a alegria pelo desporto foi tapada pela tristeza do bullying. "O António já era mal tratado pelos colegas nessa equipa, o clube sabia disso e nada fazia. Os pais pediram que ele viesse jogar para o Atlético Clube de Porto Salvo e nós recebemo-lo de braços abertos", revelou Lino Manuel Ramos, diretor do clube de Lisboa, ao JN.
No início do mês, o Atlético Clube de Porto Salvo deslocou-se ao campo da Escola de Futebol Belenenses de Oeiras para um jogo. António foi o escolhido para jogar à baliza, mas os adeptos da equipa adversária tinham outro objetivo para além de assistir ao encontro dos filhos. "Começaram a chamar-lhe de gordo, deficiente, 'frangueiro'. Ele ficou desmotivado, saiu do campo com a mãe e foi para casa, a dizer que nunca mais queria jogar futebol".
Depois do jogo, António quis ficar em casa durante uma semana, triste com o que lhe tinha acontecido, revelou Lino Manuel Ramos. Sensibilizados, os colegas fizeram um vídeo a incentivá-lo, para que regressasse e voltasse a jogar futebol, aquilo que mais lhe dá prazer.
https://www.facebook.com/acpsoficial/videos/1079084619544273
"Os pais ficaram sensibilizados e foi pelo vídeo e atitude dos companheiros de equipa que o António voltou ao clube", disse o diretor. No dia em que regressou, foi visível a alegria no rosto da criança, com os colegas a aplaudir o jovem guarda-redes.
https://www.facebook.com/acpsoficial/videos/3127456884155622
Lino Manuel Ramos explicou que o Atlético Clube de Porto Salvo fez uma exposição do caso à Associação de Futebol de Lisboa e que abordou o diretor da Escola de Futebol Belenenses de Oeiras. "O que ficou combinado com o diretor foi que ele enviasse um e-mail a pedir desculpas pelo caso. Até agora, não recebemos nada", disse.
Contactado um representante da Escola de Futebol Os Belenenses de Oeiras, o clube remete esclarecimentos para um comunicado que será emitido mais tarde.
António tem sido alvo de uma grande onda de solidariedade. O treinador de guarda-redes do Damaiense ofereceu um par de luvas profissionais à criança e uma empresa vai entregar umas caneleiras personalizadas com a cara do jovem.
https://www.facebook.com/acpsoficial/videos/441228160740795
Em comunicado, o Atlético Clube de Porto Salvo repudiou "quaisquer formas de discriminação, bullying, preconceito racial, social ou por motivo de deficiência". Invoca o lema "todos diferentes, todos iguais" para explicar que acolhe jovens com dificuldades, sejam "financeiras, sociais ou motoras". O clube esclareceu ainda que só teve conhecimento do caso no dia a seguir, "caso contrário teria abandonado o campo do adversário no imediato".
A intenção do Atlético Clube de Porto Salvo é simples. "Queremos alertar esta situação porque pode haver mais casos como o do António pelo país fora". António está agora de volta a fazer o que mais gosta: jogar futebol, na companhia dos colegas e com um sorriso na face.