Mercado de produtos e conteúdos digitais exclusivos entra no futebol, mas clubes lusos preferem esperar.
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O ano de 2021 trouxe ao mundo digital uma nova moda: os NFT, sigla para a expressão "non-fungible token", são ficheiros digitais que se tornam exclusivos por trazerem atrelado um certificado de autenticidade, e que podem ser vendidos por quantias às vezes muito elevadas.
Confuso? Imagine um quadro de Picasso, comprado num leilão por milhões de euros, mas com cópias à venda em qualquer banca de rua por 10 euros. A garantia de autenticidade é dada por especialistas, em museus ou galerias. No mundo digital, essa distinção torna-se mais difícil, pois um ficheiro pode ser igual ao original e ser reproduzido de forma infinita. Mas se lhe for colocado um carimbo de autenticidade inviolável, a monetização fica mais fácil.
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É isso um NFT: se um artista ou uma empresa quiser usar esta tecnologia, basta registar-se numa plataforma, fazer "upload" da obra ou do produto e decidir o número de cópias autenticadas que pretende disponibilizar. Quando o ficheiro é vendido, normalmente em criptomoedas, o comprador fica com a transação registada numa rede "blockchain", base de dados descentralizada, que garante a prova da propriedade.
A crescer em várias áreas, os NFT também chegaram ao desporto, em forma de produtos e conteúdos digitais exclusivos, e no futebol europeu muitos clubes estão a descobri-los como uma nova fonte de receita, tão útil no meio da crise gerada pela pandemia. Em Portugal, o fenómeno ainda está a dar os primeiros passos, mas, ao que foi possível apurar, os três grandes recebem propostas de empresas especializadas com enorme frequência. Com dúvidas sobre questões fiscais e outras, a abordagem de F. C. Porto, Benfica e Sporting é esperar para ver, analisar o mercado e não entrar no negócio ao primeiro impacto, a exemplo do que fizeram há três anos com os "esports".
No verão passado, foi noticiada a criação pela Polaris Sports, empresa de representação de direitos comerciais de atletas ligados à Gestifute, de Jorge Mendes, de uma coleção de NFT de dez estrelas do futebol, entre os quais os lusos Pepe, Diogo Jota, Rúben Dias e João Félix. Os rumores de um lucro de 1,2 milhões de euros em 24 horas para a Polaris foram desmentidos ao JN por fonte da Gestifute, segundo a qual a empresa ganhou apenas o equivalente à comissão estabelecida na venda dos cromos digitais dos jogadores. A "blockchain" Zilliqa, que fez a parceria com a Polaris, e os próprios jogadores tiraram os maiores dividendos do negócio.
Cromos virtuais à venda em jogo de milhões
Um dos "players" principais do mundo NFT aplicado ao futebol é a plataforma francesa Sorare, que criou um jogo online onde entram milhares
de adeptos, alguns deles milionários.
A premissa deste jogo de "fantasy football" parte da criação de cromos virtuais de jogadores (em março passado, mais de 120 clubes já tinham aderido), que depois são comprados e vendidos na internet. O sistema utiliza a rede blockchain Ethereum e é com a respetiva criptomoeda (Ether) que se podem realizar as transações de compra e venda dos cromos. Com prémios semanais em disputa, todos pagos na referida criptomoeda, cada jogador só pode ter cinco cromos para jogar e os pontos são definidos pelas performances reais desses cinco jogadores nas equipas. Por trás do jogo, está uma estratégia de marketing forte, que conta com o apoio de grandes nomes do futebol europeu, como Griezmann, agora de novo no Atlético de Madrid, ou Piqué, estrela do Barcelona.
Perguntas
O que é um NFT?
A sigla advém da expressão inglesa "non-fungible token" e refere-se a um certificado digital emitido para registar a autenticidade ou propriedade de um ficheiro, como prova de que é original e único, não podendo ser copiado. Utiliza tecnologia "blockchain", a mesma que está na base das criptomoedas, e a natureza descentralizada que possui implica o processamento por vários computadores em rede, tornando falsificações ou fraudes teoricamente impossíveis.
O que trazem os NFT ao mundo digital?
A principal função de um NFT é criar escassez, que no mundo digital é muito difícil de assegurar, ao contrário do que acontece no mundo físico, onde tudo é mais simples e sistematizado. A nível digital, um ficheiro pode ser exatamente igual ao original e ser reproduzido infinitamente, sem custos adicionais. Um NFT coloca-lhe um carimbo de autenticidade inviolável, com monetização mais fácil, criando um mercado totalmente novo.
Quem já aderiu aos NFT no futebol?
Muitos dos principais clubes e jogadores do futebol europeu aderiram ao venderem a imagem para o jogo "fantasy" da plataforma Sorare (ver caixa na página anterior), na qual os utilizadores compram os cartões digitais dos jogadores para formar equipas que competem semanalmente por prémios, com base nas performances reais desses jogadores nos respetivos campeonatos. Um NFT oficial de Cristiano Ronaldo foi comprado em março passado, quando o internacional português ainda representava a Juventus, por 290 mil dólares (cerca de 250 mil euros).
O que é a tecnologia "Blockchain"?
Trata-se da tecnologia que está por trás das criptomoedas. A "Blockchain" é uma base de dados descentralizada em milhares de computadores, que cria uma lista de registo de operações, organizada por blocos ligados criptograficamente: assim que uma operação é registada, a informação já não pode ser alterada, o que permite segurança nas transações, eliminação da intermediação e, em teoria, mais transparência.
Como funcionam as criptomoedas?
São ativos que podem funcionar como meio de troca, ou seja, constituem uma forma de moeda independente, que muitos utilizadores já usam para compras no mundo físico, pois existem cada vez mais serviços que as aceitam como forma de pagamento. A primeira criptomoeda a ganhar dimensão mundial foi a Bitcoin, em 2008, mas hoje em dia existem dezenas de opções disponíveis, como a Ether, a mais usada no mercado dos NFT, a Ripple ou a Binance Coin.